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Imagens engraçadas: nova forma de se comunicar

Publicada dia 03/09/2019 às 12:37:19

Thaís Balielo

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“Uma imagem vale mais que mil palavras” é uma expressão popular de autoria do filósofo chinês Confúcio, utilizada para transmitir a ideia do poder da comunicação através das imagens. A frase representa bem o momento atual das redes sociais.

Com a frase, Confúcio se referia ao uso dos ideogramas, tidos como formas de comunicação simbólicas que, quando unidos, formavam imagens que expressavam muito mais do que palavras, mas também conceitos completos e complexos, bem parecido com os memes, gifs, emojis e stickers da atualidade.

Este turbilhão de imagens dividem opiniões, muitos acreditam que ajudam a transmitir sentimentos e a “dizer” mais coisas do que apenas escrevendo. O britânico Daniel Allington, professor de cultura digital da Universidade do Leste da Inglaterra (UWE Bristol), explica que os emojis podem ser comparados à linguagem corporal, às expressões faciais e a outros recursos capazes de reforçar uma mensagem qualquer, como elevar o tom de voz.

"Quando conversamos pela internet usando apenas o texto, abrimos mão dos recursos paralinguísticos", afirma o especialista autor de artigos acadêmicos sobre os emojis e de livros na área da comunicação.

Febre do momento, as figurinhas (ou stickers, em inglês) são o exemplo mais recente de como a tecnologia anda criando ferramentas para nos comunicarmos. Ao lado dos emojis, elas seduzem por serem divertidas, fofas e criativas. Mas também por preencherem lacunas da linguagem verbal.

A comerciante, Daniela Giacon, coleciona os stickers. Ela conta que desde que começou a usar a internet para se comunicar, com o antigo ICQ, depois MSN e até mesmo bate papo UOL, ela usava os emoticons e foi acompanhando as novidades. Agora com os adesivos do WhatsApp ela se diverte e utiliza até para trabalho. Nas postagens que faz para divulgar seu comércio ela abusa dos emojis e figuras. “Acho que facilita a comunicação. Na minha opinião, fica muito divertido. O nosso dia a dia já é cheio de responsabilidade, temos que quebrar o gelo. Para ter uma ideia, tenho clientes que mandam essas animações quando vão fazer pedido pelo aplicativo. Acredito que seja uma forma de interagir”, revela.

Daniela não cria seus stickers personalizados, mas salva todos que recebe. “Não sou tão criativa, queria aprender mais pra criar, mas todos que me mandam eu salvo. É como se fosse um álbum de figurinhas de coleção: quanto mais melhor”, brinca.

Questionada se não fica difícil lembrar o que tem e qual sticker escolher para usar, Daniela afirmou achar mais fácil do que digitar como texto, pois tem coisas que a imagem divertida fala mais do que escrever. “Quando estou com tempo e estou numa conversa vou olhando as figuras e escolhendo qual mandar”, conta.

O caso da educadora física, Natália Pegorer Rosseto, é um pouco “mais grave”. Ela, além de colecionar stickers que recebe, cria diversas figuras usando familiares, amigos e acontecimentos. “Uso muito essas figuras para me comunicar atualmente. Acho engraçado, mais prático e divertido. Respondo até a minha patroa com stickers. As pessoas até reclamam que eu só respondo com figurinha”, conta.

Como ela instalou os aplicativos para criar stickers e já fez alguma brincadeira com isso com quase toda a família e amigos, todas as vezes que surgem fatos engraçados na cidade ou algo parecido, os amigos acham que é ela quem fez os stickers, “e às vezes é mesmo”, revela. Natália não faz ideia de quantas figuras possui em seu celular, mas conta que em seu app de stickers tem umas 20 figuras novas por dia. “Faço muitas. Ninguém nunca chegou e me disse que não gostou. Mas tem uma boa parte que nem sabe que sou eu. Já vou aproveitando o espaço e me desculpando”, brinca.

O gerente de logística, João Rafael Camilotti, não gosta dos stickers. Ele acredita que a brincadeira está atrapalhando a comunicação entre amigos e no trabalho pode causar problemas com má interpretação.

“Às vezes um funcionário tenta expressar por meme um sentimento que ele não tem coragem de falar e não tem coragem de escrever. O funcionário pode estar pensando em uma brincadeira, mas o chefe pode entender mal. Por este motivo eu não gosto. Temos grupo de trabalho no WhatsApp. Por escrito a pessoa entende com mais seriedade. Com figura acha que é brincadeira”, argumenta.

João não utiliza os stickers nem mesmo entre amigos. “Conversar entre pessoas é muito mais produtivo do que mensagens”, afirma. Ele revela que em grupos de amigos quando várias pessoas enviam figuras, ele nem olha. “Aí no meio se tiver uma pessoa chamando para um churrasco, acabo deixando de ir ao compromisso porque a mensagem se perdeu em meio às figuras. Nesta situação a comunicação foi atrapalhada pelas figuras”, exemplifica.

“A internet facilitou a comunicação daqueles que tinham medo de falar e preferiam escrever. Agora parece que estas imagens vieram para quem tem medo de escrever. A comunicação vai ficando cada vez pior. Prefiro a tradicional conversa mesmo”, afirma.