Socialização infantil tem impacto importante no desenvolvimento

A primeira infância da criança, que vai até os seis anos, tem um papel fundamental em sua formação - todas as vivências, aprendizados e experiências determinam e influenciam até sua formação como adulto. Existem diversas formas de estimular o desenvolvimento do cérebro dos pequenos, e um ponto de destaque é por meio da socialização infantil, ou seja, a interação da criança com pessoas ao seu redor.

Carine Ramos é psicóloga, mestre e doutoranda em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Segundo ela, as crianças aprendem e se desenvolvem por duas vias: a instrução e o modelo. “O adulto pode favorecer o desenvolvimento por estas duas vias, mas a imitação direta com pares, crianças da mesma faixa etária, leva a um aprendizado muito mais rico de diversas habilidades de socialização, cognição e comunicação”, explica. O maior benefício da socialização, seria então o fornecimento de modelos comportamentais e as oportunidades de uso destes comportamentos aprendidos.

Durante a pandemia, por conta do isolamento, muitas crianças sofreram a perda desse contato que ocorreria em espaços públicos, como escolas e parques. De acordo com a psicóloga, por mais que o acesso a oportunidades de uso e de aprendizagem de muitas habilidades sociais foram restringidos, isso não anulou o aprendizado que as crianças ainda tinham com o convívio entre familiares. “Em relação às consequências negativas, hoje já estamos entrando em contato com elas, e as pesquisas já estão concluindo que muitas crianças têm apresentado ansiedade social, sinais de depressão, inadequações com pares e dificuldades de aprendizagem. Desta forma as consequências negativas do isolamento social não estão restritas ao contexto social e sim no desenvolvimento e no comportamento adaptativo das nossas crianças e jovens”, conta. 

Enquanto psicóloga, ela conta que o que mais prejudicou o desenvolvimento das crianças que têm chegado até a clínica não foi o isolamento e sim o uso excessivo de telas azuis, como televisores, celulares e tablets, pois os objetos serviram de barreiras nas interações sociais dentro do ambiente doméstico.

Para que os pais e responsáveis consigam incentivar socialização infantil, Carine explica que isso pode ser proporcionado por meio de brincadeiras de trocas de turnos, onde adulto e criança revezam às vezes, como e brincar de faz de conta, fazer leituras e contar histórias, oportunizar momentos mediados com outras crianças. “Por exemplo, no parquinho, mostrar como pedir o brinquedo do colega, como cumprimenta, dentre outras atividades que por meio da troca de atenção desenvolvem inúmeras habilidades sociais”.