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Apostas online: prazer, vício e seus efeitos psicológicos

Publicada dia 01/11/2024 às 12:49:26

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Matheus Braga


Nos últimos anos, as casas de apostas online têm se tornado cada vez mais populares no Brasil, de acordo com o levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o mercado de apostas online movimentou cerca de R$12 bilhões em 2022. Devido ao forte apoio de campanhas publicitárias que envolvem influencers, comerciais de TV e até patrocínios de grandes times de futebol, essa tendência só vem a crescer. No Campeonato Brasileiro de 2023, 19 dos 20 clubes tinham como principal patrocinadora uma bet ou casa de apostas online, demonstrando o quanto esse mercado está inserido no cotidiano dos torcedores e consumidores em geral. Mas o que leva tantas pessoas a se envolverem com essas plataformas além da propaganda massiva?

Em conversa com o Atual, Gabriella Chaves Oliveira, psicóloga organizacional, explica que muitos consumidores são atraídos por fatores emocionais. "As principais causas que levam as pessoas a usarem essas plataformas estão relacionadas à busca de satisfação emocional, alívio do estresse e excitação. Além disso, a desigualdade e a insegurança financeira fazem com que boa parte dessas pessoas se viciem, já que buscam ganhar recompensas", ressalta a profissional.

De fato, a estrutura dos jogos de azar é desenhada para estimular o sistema de recompensa do cérebro. O simples ato de apostar e a possibilidade de obter um ganho, ainda que pequeno, desencadeia na liberação de dopamina, o hormônio ligado ao prazer. Essa sensação reforça o comportamento, incentivando o usuário a continuar jogando. "A dinâmica das recompensas imediatas dos jogos de azar estimula diretamente o sistema que produz dopamina. Isso faz com que mesmo em pequenos ganhos e na maioria das vezes perdas a pessoa se satisfaça", explica Gabriella.

Outro ponto relevante é a crescente exposição de jovens a essas plataformas. A psicóloga alerta que os jovens são mais suscetíveis aos efeitos negativos dos jogos de azar. "O cérebro se desenvolve até os 25 anos, então os jovens que têm menos que essa idade estão mais vulneráveis aos efeitos dos jogos online. A longo prazo, o envolvimento contínuo nessas plataformas pode prejudicar capacidades cognitivas, como a impulsividade que a pessoa não consegue controlar".

Além das “bets”, nesse último ano a popularidade de plataformas como “Jogo do Tigrinho” vem se destacando entre todas as faixas etárias, trazendo milhares de prejuízos financeiros a diversas pessoas. Em pesquisa, a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) revelou que os jogos de azar online se tornaram uma das principais causas de endividamento no Brasil. O levantamento aponta que 63% dos apostadores relataram ter comprometido até mesmo o orçamento doméstico devido à prática.

Os efeitos negativos são evidentes e a necessidade de compreender e intervir para minimizar os danos causados por essa prática é essencial. "Para minimizar os danos, é necessário uma abordagem terapêutica eficaz, campanhas de conscientização e entender quais razões levam a pessoa a jogar e apostar nessas plataformas".

Diante desse cenário, é essencial que a sociedade e os órgãos reguladores acompanhem de perto o avanço das apostas online, equilibrando a liberdade de consumo com a necessidade de proteção da saúde mental dos consumidores.