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Discriminação afeta consumidores, aponta pesquisa

Publicada dia 10/10/2019 às 13:38:37

Thaís Balielo

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Caso já tenha se sentido ignorado dentro de uma loja, ou não sentiu que teve o mesmo atendimento que outra pessoa do seu lado porque estava usando uma roupa simples, ou pela cor da pele, peso, sexualidade, saiba que não está sozinho. Segundo pesquisa da Fundação Procon-SP com 1.659 entrevistados, 55,15% disseram já ter sofrido alguma discriminação.

Dentre eles, 62,40% possuem baixo poder aquisitivo. A condição financeira foi o principal motivo da discriminação nas relações de consumo na percepção dos entrevistados (60,77%), seguidos pela cor (15,96%) e por ser mulher (8,20%).

Segundo a responsável pelo Procon em Santa Cruz do Rio Pardo, Deolinda Cássia Menoni Ferreira, o consumidor pode e deve recorrer aos órgãos competentes como o Procon nestes casos. Para ela, a aplicação do princípio da igualdade sobretudo em seu aspecto material, se consagrada na Constituição Federal.

“O Código de Defesa do Consumidor resguarda o direito a liberdade de escolha, a igualdade nas relações de consumo, a informação, não podendo o fornecedor prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, sempre focando na harmonização e equilíbrio das relações de consumo”, argumenta.

Deolinda revela que já recebeu reclamações sobre discriminações. Ela lembra que o consumidor que se sentiu discriminado pode procurar o Procon para realizar uma reclamação formal. Sobre o que o empresário deve fazer para evitar este tipo de situação, ela cita focar no equilíbrio das relações de consumo em sua Empresa. “Um consumidor bem atendido com certeza retornará ao seu estabelecimento”, afirma. 

Perguntados na pesquisa se a discriminação teria sido direta ou sutil, a grande maioria, 73,22% considerou que foi camuflada. O maior percentual, 36,94%, sentiu a discriminação tendo seu atendimento recusado ou retardado.

A professora Ednalva de Aquino, 38, já sentiu o preconceito na pele. Ela conta que uma vez em uma lanchonete pediu pra colocar uma mesa num determinado local. Eles disseram pra esperar no balcão que o garçom ia providenciar. “Esperamos e nada. Então chegou um grupo de amigos e pediram a mesa no mesmo lugar que tinha escolhido. O garçom nos ignorou e montou a mesa pra eles. Fui embora na mesma hora”, revela.

Outra situação que passou foi com uma bota que havia comprado e em poucos dias apresentou defeito. A vendedora da loja disse que ia tentar resolver e depois de muito tempo disse que não tinha mais direito a troca, pois havia passado o prazo. “Mas o atraso foi deles, então reclamei e o dono autorizou a troca, a vendedora pegou a bota, perguntou se era aquela que eu queria, jogou na sacola e disse "toma", empurrando a sacola pra mim. Foi horrível. Já se passaram mais de cinco anos e nunca mais pisei na loja. Fica um sentimento de falta de consideração com o cliente que escolhe estabelecimento para gastar o dinheiro e é tratado dessa forma. Às vezes, o funcionário não está satisfeito e é o cliente que paga”, afirma.

A diarista, Edina Maria Leal, 44, revela que muitas vezes entra em na loja e a pessoa olha de cima em baixo antes de atender. “Quero ver mais opções de roupa e elas não mostram. Vou embora sem comprar o que queria. Meu dinheiro vale o mesmo que o do outro, eles perdem de vender por achar que não vamos gastar”, lamenta.

A vendedora Vitória Aparecida Campos de Souza Bocali, 20, acredita que falta treinamento para alguns vendedores e o patrão precisa estar atento em como está ocorrendo o atendimento dentro de seu comércio. “Eu sou pressionada pelo meu patrão a sempre atender sorrindo e tratar bem os clientes, mas vejo muita loja que humilha o cliente que entra de chinelo, por exemplo. Nesta época de crise com lojas fechando, são lojas que tem como diferencial o bom atendimento que vão permanecer”, afirma.

“As pessoas negras também sofrem bastante. Minha irmã que é negra não foi atendida em uma loja e quando voltei lá com ela atenderam. Minha tia obesa escuta muito a frase ‘não tem do seu tamanho’. Acredito que seja um problema geral e não apenas de Santa Cruz”, argumenta.

A operadora de Caixa, Valéria Bento, 20, conta que já foi vendedora no comércio e recebia por comissão. “Revezávamos a vez para atender os clientes. Aconteceu de chegar pessoa vestida mais simples ou de chinelo e a colega passava a vez para mim, pois achava que perder tempo atendendo quem não tinha dinheiro. Porém teve vez que a pessoa vestida simples gastar bastante, não sei se ela aprendeu a lição”, brinca.

Buscando histórias de discriminação no comércio para embasar a pesquisa feita pelo Procon, a reportagem ouviu muitas histórias parecidas com o que a pesquisa apontou. Frases como “não tem do seu tamanho”, “essa roupa é só para magrinhas”, ou “esse é caro”, além de relatos de ser ignorados dentro do estabelecimento fortalecem os dados da pesquisa.