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“Somente a crítica ao discurso de ódio pode evitá-lo”, diz psicóloga

Publicada dia 17/04/2018 às 11:57:32

Carol Leme

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Na primeira semana de abril, o relato de uma mãe desesperada mobilizou as redes sociais dos santa-cruzenses. Na postagem, Marta Conceição contou que sua filha, de apenas 15 anos, havia sido agredida por três adolescentes entre 13 e 17 anos simplesmente por causa de sua orientação sexual. Com um inchaço no cérebro devido a chutes e socos, a jovem ficou na UTI por quatro dias e contou que, enquanto batiam nela, diziam “reaja como um homem, já que se veste como um”. Algumas leis já garantem a punição à homofobia, que é caracterizada pela discriminação em razão de orientação sexual, mas, de fato, há ainda muita se percorrer quando se fala no assunto. Neste caso, os jovens foram ouvidos, liberados e o caso seguiu para apreciação da Vara da Infância e Juventude.

Segundo a psicóloga Antiella Carrijo Ramos, a raiz da homofobia vai além da sexualidade, e pode ser expressada na sociedade pelo racismo, pela raiva a minorias, e até ao preconceito de gênero, que ainda é muito frequente com as mulheres. “Devemos analisar de onde vem esta reação social expressada de uma maneira tão explícita. Agora, com as redes sociais as pessoas deixam muito claro preconceitos que eram antes restritos a um grupo, à família, às discussões no bar. A forma mudou, mas sempre existiu”, detalha. Para Antiella, o preconceito está enraizado na população brasileira, e grande parte vem, ainda, do reflexo da escravidão, já que o Brasil foi o último país a aboli-la. “Ele faz parte visceral da sociedade desde que o país foi descoberto, na verdade. As formas de expressão de gênero, sexualidade, cor, entre outras, que fogem do ‘padrão’ estabelecido sempre foram um alvo”, complementa.

A saída, para a psicóloga, é que as pessoas que não concordam com estas atitudes se posicionem de maneira clara, fazendo críticas, sem medo de retaliações. “É preciso combater os discursos de ódio que têm origem nos valores preconceituosos em todos os espaços, desde redes sociais à encontros de família, rodas de amigos, escola e trabalho. Só a partir do diálogo e crítica aos conceitos estabelecidos é que poderemos mudar esta realidade”, orienta. De acordo com Antiella, o ódio costuma ser baseado em valores, emoções e não em fatos, a verdade sobre a sociedade. “A omissão não pode acontecer, está sendo prejudicial para todos. Quem tem um mínimo de informação, de forma lúcida, geralmente se omite para não se posicionar e seria na verdade alguém que poderia introduzir a cultura da paz, a mediação do conflito. Devemos fazer uma autoanálise para ver quando reproduzimos esse conteúdo de alguma forma”, observa. A profissional lembra que, apesar da divulgação em massa dos discursos de ódio, outras instituições surgem para mudar os antigos conceitos da sociedade. “Está acontecendo uma maior reflexão humanitária até mesmo da igreja católica, com o novo Papa que fala da importância da aceitação, tolerância e respeito, estamos vivendo uma abertura religiosa neste sentido”, afirma.

Para Antiella, a diversidade, sexual, de gênero, social ou racial, deve ser discutida desde a infância, quando se planta uma semente que será colhida na vida adulta. “Temos ferramentas para falar isso de acordo com cada idade e devemos sempre deixar claro que, embora haja diferenças, deve-se haver respeito. Os professores são multiplicadores e tem grande papel nesta educação. Em casa, além das conversas desde o início da vida, vale muito o exemplo dos pais. Devemos empoderar as crianças a desempenhar este papel”, finaliza.