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Professora da rede pública produz vídeos lúdicos para ajudar alunos na quarentena

Publicada dia 02/07/2020 às 10:11:39

Arquivo Pessoal

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Diego Singolani


Um dos primeiros setores afetados pela pandemia do novo coronavírus foi o da educação. Com as escolas fechadas, o ensino à distância (EAD) se mostrou a única alternativa encontrada, primeiro pela rede privada e mais recentemente pelos colégios estaduais e municipais, para tentar salvar o ano letivo. Pais, alunos e professores se viram defenestrados para uma nova realidade - e a maioria não estava preparada para isso. Porém, mesmo em um cenário de incertezas e dificuldades, há quem tente fazer um algo a mais pelo outro e, assim, minimizar o impacto da crise. É o caso da professora Karina de Rossi Leocádio Pereira, 42, que leciona há 11 anos em Santa Cruz do Rio Pardo. De maneira improvisada, com o celular, ela decidiu gravar e editar vídeos em um formato mais lúdico, o que tem ajudado seus alunos a compreender melhor o conteúdo em casa. Karina diz que quer se aperfeiçoar e, inclusive, compartilha seus vídeos em um canal no YouTube.

Karina dá aulas para crianças do Ensino Fundamental I, com idades entre 6 e 11 anos. Atualmente ela trabalha na escola municipal Prof. Sebastião Jacyntho da Silva. A professora conta que, apesar de apreensiva, comemorou a notícia de que a prefeitura havia aderido ao sistema EAD e que os alunos voltariam a ter aulas. “Toda mudança gera estranheza e insegurança. Muitos não tinham tanta intimidade com os recursos tecnológicos. Foi uma corrida, um desafio e todos os profissionais merecem os parabéns por terem se superado em tão pouco tempo. Somos humanos e cada um tem as suas limitações, mas fomos capazes de mostrar dedicação e buscar meios para evoluir e atender as necessidades atuais. Tenho orgulho de ser professora e valorizo meus colegas”, afirma. De acordo com Karina, a situação atípica e abrupta não permitiu que houvesse tempo hábil para a plena capacitação dos professores. “Em minha opinião, a maior dificuldade para os docentes foi à rapidez com que as mudanças foram necessárias e a ausência de tempo para uma capacitação de qualidade. Estamos todos aprendendo juntos e buscando a melhor maneira de superar os desafios. A inclusão digital enfim chegou para ficar”, disse.

A professora revela que sempre teve a intenção de gravar vídeos para seus alunos, mas não tinha o conhecimento necessário para a edição. “Antes da pandemia eu tinha gravado alguns vídeos com breves explicações para auxiliar em algumas tarefas de casa, mas era tudo muito simples e dava até vergonha. Mesmo assim, como para mim o que importa é o conteúdo, esses vídeos continuam disponíveis no meu canal no YouTube (Karina Leocádio)”, afirma. Com a pandemia, a gravação dos vídeos se tornou uma necessidade não apenas para Karina, mas para todos os demais docentes. Em contato com outras amigas professoras, Karina descobriu alguns aplicativos que a ajudaram produzir seu conteúdo. “Procuro fazer um vídeo com efeitos para chamar a atenção das crianças porque sei o quanto é difícil prender a atenção em sala de aula, imagina estando longe deles! Ainda hoje, sei que meus vídeos não tem a qualidade ideal, estou aprendendo a editar. Muitos dão risada e acham uma exposição desnecessária, nem ligo, para mim o que importa é que, se alguém assistir e captar o conteúdo, meu objetivo já foi alcançado. Procuro passar dicas simples para memorização, pois não é o momento de aprofundar o conteúdo, além disso, ninguém tem paciência para assistir a um vídeo longo demais”, explica a professora. 

Impacto da pandemia

Karina é casada e tem três filhas em idade escolar, Bruna, 15, Lorena, 7, e Giovana, 5. “Como mãe, sou solidária às queixas de todas as outras mães. São três filhas em séries diferentes, com conteúdos diferentes, necessidades diferentes e todas precisam dos mesmos recursos para as aulas online: computador ou celular e internet. Isso tem um custo. Não é fácil conciliar os horários das aulas das crianças, a rotina de estudos com elas, a minha rotina de trabalho home office e os cuidados com a casa. Ainda bem que meu marido é parceiro e divide as responsabilidades porque nesse momento todos estão tendo que se desdobrar e se dedicar muito mais do que antes”, disse. 

“Os alunos estavam acostumados a usar a internet para diversão e não para estudo. Agora é diferente. Muitos relatam que têm apenas um celular para dividir com os irmãos e os créditos acabam rápido demais. Além dessas questões financeiras, a maior dificuldade é realmente estar longe do professor e dos colegas. O ambiente escolar, a sala de aula é essencial para a aprendizagem. Nada substitui a interação, o olho no olho, a vivência em sala de aula e as intervenções adequadas que o professor faz no momento da realização das atividades. Isso faz toda a diferença na aprendizagem do aluno”, afirma Karina.