Psicóloga explica como lidar e gerenciar as expectativas

Criar expectativas é natural do ser humano, e de certo modo também é inevitável. A época do final do ano é repleta delas - tanto pelo que se planeja para o próximo ano, quanto para se ver o que foi conquistado. Mas nem sempre as expectativas são atingidas, e isso pode gerar frustrações e dores. Como é possível lidar com essas expectativas que não deram certo?

Jaqueline Rubio é psicóloga, e segundo ela, o final do ano traz uma marcação forte de encerramento de atividades e de fechar alguns ciclos. “Por um lado, eventos festivos favorecem e marcam a entrada de algo novo, também de férias, de possibilidades de energias renovadas. As pessoas acabam mesmo sendo levadas a refletir quais foram as conquistas, se as expectativas foram cumpridas ou fracassadas. E realmente, fica difícil a gente se deparar apenas com dados interessantes. Vamos fracassar em algumas esferas, e faz parte de quem está na caminhada da vida, de quem não está parado.”

Ela conta ao Atual já que não é de hoje que os consultórios psiquiátricos e psicológicos estão sendo bastante frequentados por pessoas que não tem se dado conta de sentir os sentimentos que precisamos aprender a vivenciar. “É importante entender que ao ser frustrado, isto é, ao ter o oposto do que você havia imaginado, é inevitável sentir desconforto. E uma coisa é não gostar de sentir desconforto, ninguém gosta, outra coisa é achar que não pode sentir desconforto. Percebe que são coisas diferentes? Mas ao longo do tempo fomos internalizando essa ideia e não por acaso de que se você está se sentindo mal alguma coisa tem de errado. Ao não abrir espaço para sentir, para fazer a leitura adequada de seu funcionamento não tem como aprender a lidar consigo. Aumentar o nível de tolerância à frustração, tem muito a ver com isso tudo. Revisitar as crenças, se compreender enquanto ser humano e não como máquina. Também com se expor a sentir e viver coisas diferentes, variar comportamentos. E à medida que isso vai acontecendo, vai aumentando também seu repertório de vida, e consequentemente de enfrentamento diante das adversidades. De lidar com imprevistos e de se frustrar sem se perder”, explica.

Mas então como podemos gerenciar nossas expectativas para que elas não fiquem fora da realidade e acabam gerando esse ciclo de frustrações? Jaqueline diz que é preciso sonhar dentro dos próprios limites. “Para se alinhar nesse sentido, é imprescindível que o autoconhecimento entre em cena. Você só pode conhecer seu funcionamento, isto é, as variáveis que influenciam o seu modo de se guiar no mundo, o que te leva a ter determinadas ações, se você se compreender melhor. A psicoterapia acaba sendo sua aliada nesse sentido, porque é justamente sobre isso. Outra coisa que não é incomum, de as pessoas também criarem expectativas que fogem ao controle delas, como por exemplo – esse ano vou ter um namorado (a). Percebe que por mais que isso de fato aconteça, que na melhor das hipóteses - a pessoa esteja super engajada nessa busca de parceria amorosa, participando de muitos eventos sociais que a (o) favoreça nesse processo. Ainda assim, é uma expectativa com grandes chances de frustração. Não depende só de você”, esclarece.  

Além das nossas próprias expectativas, muitas vezes vivemos com o peso das expectativas criadas pelos outros em cima de nós mesmos. A psicóloga relata que, infelizmente, isso é extremamente comum. “Não por acaso estamos cada vez mais cheios de demandas na esfera emocional. Veja só, num mundo ideal, todos teríamos oportunidades iguais, estímulos diversos, presença humana de qualidade, acesso a afeto, a interações que propiciam desenvolvimento de responsabilidade. Ainda assim, acho que devemos partir da sabedoria que nos mostra quais caminhos seriam interessantes para ter um modo de viver mais saudável. E sim, saúde mental, pede que a gente se limpe de expectativas alheias, e que tracemos as nossas próprias. Nesse sentido, vou bater na tecla da psicoterapia, do autoconhecimento, de ajudas externas, para ir auxiliando nessa jornada, para ir tentando fazer os ajustes possíveis. Eu não seria quem sou hoje e quem estou tentando me tornar, sem as pessoas que eu tenho ao meu lado me auxiliando em minha caminhada. Então eu certamente, diria, vá buscar pessoas que possam se tornar seus aliados. A gente prospera à medida que tem gente que acredita na gente”.