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Pandemia pode atrapalhar tratamento de fibromialgia

Publicada dia 13/04/2021 às 10:55:30

Thaís Balielo

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Thaís Balielo


Uma doença que ainda carrega muito preconceito e até diagnósticos errôneos é a fibromialgia. Com um tratamento baseado em atividades físicas regulares e equilíbrio emocional, a pandemia não tem ajudado muito estes pacientes. O médico reumatologista Júlio Hoppe relata que tem percebido um agravamento dos quadros dos pacientes neste período de ansiedade e stress, causado pelo coronavírus, pela necessidade do distanciamento social e até pela dificuldade de praticar atividades físicas.

Hoppe explica que a fibromialgia é uma síndrome de sensibilização central da dor, em que acontece uma distorção da forma com que o organismo a interpreta. A doença é mais comum em mulheres entre 35 a 50 anos. “É uma doença crônica em que o paciente normalmente traz ao consultório a queixa de dor no corpo inteiro”, diz.

O principal sintoma é a dor crônica generalizada (sensação de queimação, aperto, pontada, agulhada, inchaço, caroços), além de não ter um padrão específico para se pensar em outras doenças reumáticas. Outro fator interligado é labilidade emocional. “A maioria dos pacientes tem ou já teve algum sintoma relacionado a parte emocional. Desânimo, tristeza, fadiga, depressão, ansiedade, problemas familiares e de relacionamento conjugal, estresse, traumas da vida, (agressão e/ou abuso), alterações de memória”, relata.

Outro sintoma é o sono não reparador. O paciente já acorda cansado, parece que não teve uma boa noite de sono, ou sono interrompido. Pessoas que trabalham a noite e que dormem de dia também tem essa sensação. O médico relata ainda que a maioria dos pacientes tem condicionamento físico baixo devido ao sedentarismo.

Júlio pondera que a doença pode demorar a ser diagnosticada, pois não existe exame de laboratório ou de imagem que diagnostique fibromialgia. “O diagnóstico é feito pelo relato do paciente e pelo exame físico. Muitos pacientes com fibromialgia infelizmente são taxados como mentirosos e alguns médicos ainda falam que fibromialgia não existe, tudo pelo preconceito que a doença ainda enfrenta. O quanto antes for identificada e tratada melhor. Sua dor é real e ela existe. Só o fato de você falar que sente dor basta. Não deixe que a dor controle sua vida”, aconselha.

Para o tratamento Hoppe salienta que a mudança de estilo de vida é fundamental. Iniciar atividade física regular. “Quem não tem o hábito, ao iniciar, pode sentir piora da dor por várias semanas. É nesse momento que não se pode desistir, deve-se continuar fazendo, com aumento gradual do ritmo, intensidade, frequência e duração. Além disso, dormir bem é fundamental”, diz.

O tratamento medicamentoso é feito com analgésicos, desde que por curto período. Já medicações antidepressivas, ansiolíticos, relaxantes musculares, e indutores de sono são usados de forma contínua de acordo com as queixas do paciente de forma individualizada. “Terapias alternativas como acupuntura, psicoterapia também são bem vindas e demonstram bons resultados”, relata.

O médico afirma que o prognóstico da doença é muito bom quando o paciente tem uma boa adesão ao tratamento. Em relação à cura, ele explica que a palavra seria remissão. “O paciente fica sem sintomas, mas mantendo o tratamento, sendo ele medicamentoso ou não. Porém com a pandemia grande parte da população mudou o seu cotidiano. As pessoas deixaram a prática da atividade física, ficam sozinhas, não saem de casa, nível de estresse e ansiedade nas alturas. Meu conselho é que tomem as medidas de higiene adequadas, pratiquem atividade física, evitem aglomerações, usem plataformas digitais para reuniões”, recomenda. 

Hoppe faz questão de deixar claro que não existe fórmula milagrosa para o tratamento. “Fórmulas manipuladas com anti-inflamatórios, analgésicos e corticoides não devem ser usadas de forma contínua, e podem, inclusive, trazer malefícios à saúde”, alerta.