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Completando 151 anos, história do início de Santa Cruz gera controvérsia

Publicada dia 19/01/2021 às 11:44:17

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Thaís Balielo


Os historiadores Celso Prado e Junko Sato descobriram em suas pesquisas que os pioneiros da cidade foram Manoel Soares e o padre João Domingos Figueira. Durante décadas foi atribuído a Joaquim Manoel de Andrade e Manoel Francisco Soares a fundação da cidade. No entanto, farta documentação encontrada aponta que houve uma deturpação das informações ao longo do tempo, o que ainda não foi corrigida oficialmente.

Segundo informações obtidas através de documentos e jornais antigos, Celso Prado explica que Joaquim foi um importante político da época e contribuiu para o desenvolvimento e crescimento da cidade, mas não foi o pioneiro. No Jornal do século passado “Correio do Sertão” Celso encontrou informação relatando sobre os pioneiros Manoel Soares e o padre João Domingos Figueira.

Outro documento importante encontrado pelo casal foi o livro dos registros paroquiais do sertão de Botucatu da década de 1850. No documento, há relatos sobre a divisa de terras do fazendeiro Manoel Francisco Soares, um dos fundadores de Santa Cruz do Rio Pardo junto com o padre João Domingos Figueira. O registro paroquial era um documento necessário para, posteriormente, obter a certidão de terras em cartórios.

Celso Prado relata que o mineiro José Theodoro de Souza chegou à região com aproximadamente 1.000 pessoas. No grupo, estava Manoel Francisco Soares e seu possível sócio, João Rodrigues de Oliveira, que se apossaram das terras na região da Jacutinga, na beira do rio Turvo. Soares dividiu suas glebas nas fazendas Criciumal, Jacutinga e Santa Cruz. 

Outra mudança histórica encontrada na pesquisa do casal são as terras doadas por Manoel Francisco Soares ao padre João Domingos Figueira, que dariam origem a Santa Cruz do Rio Pardo. Na verdade, as terras não teriam sido doadas, mas sim compradas de outro posseiro. João Domingos Figueira tem seu nome lançado na história como co-fundador e primeiro vigário de Santa Cruz.

“Indiscutivelmente Manoel Francisco Soares foi o doador, em 1861/1862, de cem alqueires de terras, mais ou menos, para o patrimônio da Santa Cruz, e, de imediato nelas se pôs a trabalhar o reverendo padre João Domingos Figueira, para o reconhecimento da localidade como Capela. Nisto, ambos reconhecidos pela história, como os fundadores de Santa Cruz do Rio Pardo em 1862”, escreve Celso Prado em seu blog na sessão Santa Cruz do Rio Pardo – Memórias, Documentos e Referências.

Segundo o livro Santa Cruz do Rio Pardo: Memórias - Subsídios para a História de uma Cidade Paulista, de José Magali Junqueira, a origem do nome da cidade se dá por uma grande cruz plantada às margens de um pardacento rio, iluminada, à noite, com tochas e velas, para espantar os índios.

Pandemia da Gripe Espanhola atingiu Santa Cruz

Atualmente passando pela pandemia da Covid-19, Santa Cruz do Rio Pardo já sofreu com outra pandemia em 1918, a da Gripe Espanhola. Segundo dados do livro de Junqueira houve mortes e o Grupo Escolar foi transformado em hospital e a Estação Ferroviária passou a ter um processo de higienização pelo TG.

O livro conta que a Igreja, a Cruz Vermelha e o Escotismo mobilizaram-se para atender às necessidades provocadas pela epidemia. A Prefeitura Municipal determinou o cancelamento das atividades do dia de finados, proibindo visitas ao cemitério. Os atiradores do TG 451 daquela época encarregavam-se de desinfetar os passageiros que chegavam pelo trem da Sorocabana. Foram canceladas as linhas noturnas daquela estrada de ferro. O Major Leônidas do Amaral Vieira, então presidente da Municipalidade, congregou pessoas para angariar fundos que fizessem frente às despesas com remédios, transportes, leitos, roupas de cama, etc., provocadas pela epidemia que se despontava em Santa Cruz do Rio Pardo, naquele apreensivo final de ano. Padre Gasparino Dantas, vigário da Paróquia, unia-se às diversas irmandades de sua igreja e também ia à luta em busca de recursos, para atender aos problemas causados pela temida gripe.

Em São Paulo, os chamados Boys Scouts, percorriam longas distâncias, levando remédios e suavizando o flagelo provocado por aquela doença. Os jovens de Santa Cruz do Rio Pardo eram estimulados a imitar os escoteiros da capital para que também participassem da luta, quer pela Cruz Vermelha, quer pelo Escotismo. Os grupos escolares da cidade foram transformados em hospitais provisórios. Os primeiros focos da gripe aparecem na Cadeia Pública. Um preso morreu: o sentenciado Camões.

Segundo Magali o grito de alerta vinha pela imprensa: “Evitar aglomerações, principalmente à noite. Não fazer visitas. Tomar cuidados higiênicos com o nariz e a garganta: inalações de vaselina mentolada, gargarejos com água e sal, com água iodada, com ácido cítrico, tanino e infusões contendo tanino, com folhas de goiabeira e outras. Tomar como preventivo, internamente qualquer sal de quinino nas doses de 25 a 50 centigramas por dia, e de preferência no momento das refeições. Evitar toda fadiga ou excesso físico. O doente, aos primeiros sintomas, deve ir para a cama, pois o repouso auxilia a cura e afasta as complicações e contagio. Não deve receber absolutamente nenhuma visita. Evitar as causas do resfriamento é de necessidade tanto para os sãos como para os doentes e os convalescentes. Às pessoas idosas devem aplicar-se com mais rigor todos esses cuidados”, transcreve no livro.

Magali conta que a instalação de hospitais provisórios nos grupos escolares resolvia, em grande parte, as dificuldades existentes e, de certa forma, forçava a instalação definitiva da Santa Casa. “Inúmeros eram os registros de óbitos veiculados pela imprensa santa-cruzense da época, mas, em muitos deles, não se mencionava a epidemia. Uma das vítimas da gripe espanhola foi o Sr. Cândido Barbosa, proprietário do Hotel Central”, diz.

Em 1919, a gripe continuou ceifando vidas e amargurando famílias, com várias pessoas acamadas. Na fazenda “União”, no município de Santa Cruz do Rio Pardo, registrou-se o falecimento de uma jovem senhora, casada com o Sr. Alfredo Mamede Filho, fazia apenas seis dias. Em Santa Cruz do Rio Pardo faleceu, vitimado pela epidemia, o Sr. José Bellarmino da Silveira Bispo, membro da respeitada família Silveira Franco. No dia 7 de julho de 1919, também a família do Dr. Pedro Camarinha sofria com a morte prematura do filho Paulo, com apenas dois meses de idade.