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“Falta de conhecimento pode gerar preconceito”, diz psicóloga especialista em autismo

Publicada dia 05/03/2020 às 18:07:11

Geovanne Cândido

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Diego Singolani


A Mestre em psicologia Natalie Brito, especialista em análise do comportamento aplicada o autismo, foi uma das participantes do segundo Simpósio InTEA, promovido pela Clínica Integrar, em Santa Cruz do Rio Pardo. Natalie palestrou sobre a adaptação de materiais e currículos para crianças com autismo e deficiência intelectual. Além de expor diversas metodologias utilizadas em sala de aula, Natalie falou ao Atual sobre a importância da capacitação dos profissionais de educação e da individualização da abordagem para cada perfil de aluno - um direito garantido por lei. Confira os principais trechos da entrevista:

Atual - Quais os desafios do profissional da educação ao lidar com crianças com transtorno do espectro autista?

Natalie - Acredito que o principal desafio é entender mais sobre as formas de ensinar e os ensinos baseados em sólidas evidências científicas. Falta às pessoas se apropriarem mais desse conhecimento, divulgarem mais. Além disso, sempre devem ter em mente que cada aluno é único e que ele vai precisar de um plano de ensino individualizado.

Atual - O Brasil oferece capacitação aos seus profissionais da educação nesse quesito?

Natalie - Oferece alguma, mas deixa muito a desejar, principalmente sobre as práticas educativas baseadas em evidências. O aluno deve ter um tratamento individualizado, sim, mas existem procedimentos de ensino amplamente estudados, discutidos e validados que os professores precisam conhecer.

Atual - Essas adaptações deveriam ser garantidas para todas as crianças com transtorno do espectro autista?

Natalie - É um direito. A lei brasileira de inclusão diz que o aluno tem direito a medidas individualizadas, adaptações às suas condições, para que ele possa desenvolver ao máximo sua autonomia. Como no caso do mediador, por exemplo, que é o profissional responsável (como o nome sugere) por mediar o conteúdo da sala, os materiais ou mesmo as interações sociais da criança, caso ela precise. A situação deve ser avaliada caso a caso, mas se a criança realmente precisar do mediador em determinados momentos de sua rotina, ela tem direito a esse profissional especializado.

Atual - Como as pessoas que compõem o ambiente escolar, sobretudo professores e colegas de sala, devem agir para auxiliar na inclusão e adaptação da criança com TEA, sem, ao mesmo tempo, discriminá-la de alguma forma?

Natalie - Os colegas, que chamamos de pares da mesma idade, são os melhores mediadores que a criança com autismo pode ter. Um bom planejamento de ensino vai envolver todos os alunos nessa programação, para que todos reconheçam e valorizem a diferença, a diversidade.

Atual - Quais as principais dificuldades que a criança com TEA enfrenta no ambiente escolar e, de maneira geral, quais são os detalhes de adaptação mais relevantes?

Natalie - A principal dificuldade, realmente, é a falta de conhecimento, que acaba gerando uma série de coisas, inclusive o preconceito. Quanto às adaptações, geralmente as crianças com TEA são bastante visuais. A utilização de figuras e ilustrações para descrever ações de sua rotina, como ir ao banheiro, por exemplo, podem ser úteis na execução das tarefas. O uso de suportes visuais ou pistas visuais, como chamamos, é bem efetivo.

Atual - Qual a importância da família estar próxima da comunidade escolar durante esse processo de formação do aluno?

Natalie - É fundamental. Se não tiver a participação da família a escola tem pouco avanço. A família tem que reforçar aquilo que é feito na escola e vice-versa. Se a escola está realizando o desfralde da criança, em casa isso também deve acontecer. Se não houver a participação de todas as pessoas relevantes na vida daquele aluno no processo, a coisa não vai para frente.