< Voltar

Ser mãe na pandemia traz novos desafios

Publicada dia 08/05/2021 às 18:09:06

ser-mae-na-pandemia-traz-novos-desafios

Thaís Balielo


A gestação, o parto, os primeiros cuidados parentais, tudo isso já traz muita ansiedade, insegurança e medos, mas passar por esta experiência em meio a uma pandemia de um vírus mortal agrava ainda mais esse turbilhão de sentimentos. Como o ciclo da vida não para, muitas mulheres engravidaram durante a pandemia e tiveram seus bebês neste “novo mundo”.

É o caso da vendedora Marinalva Da Silva Figueira, 38, que acabou de ver seu primeiro filho, o Antônio, nascer. Ela conta que já queria ter filho antes da pandemia e chegou a sofrer dois abortos. Após iniciar um tratamento para aumentar os níveis de progesterona, conseguiu engravidar. O casal estava apreensivo com o momento atual, mas o desejo de serem pais falou mais alto.

“Minha gestação foi muito tranquila, porém como trabalho no comércio tinha muito medo de pegar Covid. Estava me cuidando muito. Chegava a usar duas máscaras no dia a dia para ter maior proteção e atendia os clientes com um bom distanciamento”, conta.

Após o nascimento do filho não receberam visitas, apenas os avós e uma tia que é médica que conhecem o Antônio pessoalmente, o restante dos familiares e amigos só viram através do celular. “Não temos outro filho para comparar como é ter um bebê sem a pandemia. Acredito que faça falta apresentar nosso filho, ter as visitas, mas ao mesmo tempo tem o lado positivo que cuidamos do Antônio do nosso jeitinho e o pai tem a oportunidade de participar mais. Ele dá banho, troca, faz dormir, só não dá de mamar. Acredito que se tivesse muita gente vindo ajudar, o pai poderia acabar ficando mais de lado”, diz.

A auxiliar de cobrança, Rafaela da Silva Camargo, 35, já era mãe do Luiz Henrique, 9, quando nasceu Amelie. Ela engravidou durante a primeira fase da pandemia no País. “Comparando a minha primeira gestação, me senti muito mais vulnerável e solitária. Eu e meu marido cumprimos à risca o isolamento social, principalmente nos últimos três meses da gestação. Por consequência, acabamos passando as festas de fim de ano sozinhos”, conta.

Rafaela conseguiu passar a gestação toda em home office. Já o marido trabalha com programação e teve que voltar ao trabalho presencial por um período, o que aumentou a preocupação.

“A cada ultrassom passávamos por ondas de alegria por ver nosso bebê saudável e apreensão por medo de no percurso termos vacilado em algum momento e termos contraído o vírus. Continuamos assombrados pelo medo do Covid, ainda mais porque atualmente as vítimas não são somente números distantes, mas já possuem nome e até algum grau de parentesco. Vivendo essa incerteza por não termos um plano de combate a esse vírus, nossa filha dentro da nossa família se tornou um símbolo de esperança”, afirma.

O casal mora em Ribeirão Preto, mas com a licença maternidade e a volta do trabalho home office do marido, decidiram passar um período na casa dos sogros em Santa Cruz. “Facilita ter uma rede de apoio quando se tem um recém-nascido. Consideramos ainda, por ser uma cidade pequena, que o risco seria menor, além do fato de morarmos em condomínio e eles em casa. O home office também faz com que a Amelie tenha mais convívio com o pai. O homem tem apenas cinco dias de licença, mas trabalhando em casa ele consegue ficar mais com ela e estreitar este vínculo paterno tão importante”, argumenta.

A educadora física Natália Pegorer Rosseto, 36, se assustou quando descobriu a gravidez no meio da pandemia. Ela tinha deixado seu emprego para poder ficar com o filho de 5 anos, já que, sem escola, ela não iria conseguir continuar trabalhando. “Quando descobri a gravidez fiquei um pouco assustada, com medo, depois foi amenizando, mas no final a preocupação voltou por conta do grande aumento do número de casos de Covid”, revela.

Natália afirma que, apesar de todas as dificuldades e medos relacionados à pandemia, a maior diferença da primeira gestação foi a segurança que sentia por já ter passado por outra gravidez. A falta de visitas também foi diferente do primeiro filho. “Quando a Beatriz nasceu foi muito diferente, pois no parto do João devia ter umas 15 pessoas entre amigos e familiares esperando ele nascer. Além das visitas em casa depois. Tudo isso a Beatriz não teve. Ao mesmo tempo, a falta de visitas e de muitas pessoas ajudou e nos uniu. Os cuidados com ela só dependem de nós”, argumenta.