Russo morando no Brasil sofre consequências da guerra

O conflito entre Rússia e Ucrânia chama nossa atenção nos noticiários, mas para o tradutor Renan Carlos Silverio, 27, e seu companheiro russo Pavel, que mora em Ipaussu (SP) com ele, as notícias são ainda mais impactantes. Com família na Rússia e sofrendo dificuldades com seu dinheiro naquele país, Pavel acompanha atentamente cada notícia.
Designer e Fotógrafo, o russo Pavel Kuzin, 27, está morando em Ipaussu há um ano. Renan estudou russo e procurava amizades virtuais com Russos para treinar o idioma, foi assim que conheceu Pavel e a amizade foi crescendo até decidirem se encontrar e tentar um relacionamento.
Eles começaram a juntar dinheiro para tentar se encontrar, mas com os voos sendo cancelados em 2020, o projeto foi adiado. Em março de 2021 Pavel conseguiu vir ao Brasil, com o relacionamento dando certo e gostando do Brasil, o russo resolveu ficar. Com trabalho a distancia ele ainda recebe em Rublo, moeda russa, em dois ou três dias de conflito a moeda já havia desvalorizado 30%. Agora ele relatou dificuldade em movimentar o dinheiro devido aos embargos que a Rússia sofreu, além dos trabalhos terem parado.
Pavel contou que é contra o conflito, mas também contra a brutalidade ocorrida na Ucrânia por conta dos grupos neonazistas que perseguiam russos. “Acredito que existem várias formas de resolver essas questões geopolíticas, existe sempre a via diplomática, conflito armado nunca é bom, é terrível para os dois lados. Esses jogos geopolíticos sempre ocorrerão, mas a morte de pessoas inocentes e a violação dos direitos humanos não podem ser toleradas”, diz.
Pavel pondera que também existe uma guerra de informações. “Atualmente é óbvio que não há liberdade na Rússia. Eu também queria deixar claro que, as pessoas precisam entender que o governo russo é uma coisa, o povo russo é outra, então o que o governo faz nem sempre reflete na vontade da maioria do povo russo. Quero e espero muito pelo fim deste conflito, e sou solidário aos civis da Ucrânia. Somos um povo irmão, queremos paz”, argumenta.
Ele afirma que o conflito o afetou desde o primeiro dia com a desvalorização da moeda e com os trabalhos parados. “A russofobia nas redes e principalmente na Europa começaram a me assustar um pouco, depois vieram as sanções dos cartões de créditos da Visa e Mastercard que deixaram de funcionar na Rússia e afetou a todos os cidadãos russos como eu que estamos impedidos de realizar movimentações financeiras, então agora estou em uma posição difícil”, lamenta.
Pavel lembra que não escolheu e não quis este conflito. “Eu vim para o Brasil para ficar próximo de uma pessoa muito querida, viajar, descansar, mas acabei me tornando refém dessa situação toda. Minha família que está na Rússia, ainda está em uma posição melhor do que a minha, mas eles já estão assustados com o aumento dos preços por lá, quase tudo está ficando mais caro. É lamentável, pois pretendia visitar a minha família talvez ainda neste ano de 2022, mas meu encontro com minha família terá de ser adiado. Eu vim para cá muito antes desse conflito e o Brasil se tornou minha casa, uma país incrível, com ótimas pessoas e os brasileiros são super acolhedores. Eu não sou capaz de parar esse conflito sozinho, mas sou capaz de ser útil às pessoas, apoiar, amar, ajudar, criar soluções, informar, e desejo poder encontrar um trabalho e seguir com a minha vida aqui no Brasil”, argumenta.
Sobre a OTAN, ele afirma que o órgão sempre foi um desafio para a Rússia. “Porém muitas provocações contra a Rússia já aconteceram, mas sejamos honestos, cada lado está agindo por seus próprios interesses. Cada lado tem a oportunidade de promover suas ideias, bem como defender sua posição. Francamente, sou contra a posição da OTAN. Diz defender a liberdade, a paz, os direitos humanos, mas na prática não parece estar interessado em promover estes valores e princípios entre as nações”, lamenta.