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Relacionamento abusivo tratado em série mostra realidade de várias mulheres

Publicada dia 16/01/2020 às 11:20:53

Reprodução / Laura Teixeira

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Nem sempre é fácil sair de um relacionamento abusivo. Mais complicado ainda é reconhecer que você está em um. Às vezes, embora você saiba que relações abusivas existem, é difícil acreditar que é algo tão próximo da sua realidade e que pode acontecer com você a qualquer momento. Acima disso, de quem você menos espera.

Baseada no best seller homônimo de Caroline Kepnes, a série da Netflix “You” (Você) é contada pelo ponto de vista de um homem que persegue uma mulher.

Estrelada por Penn Badgley, o suspense de duas temporadas gira em torno de Joe Goldberg, gerente de uma livraria que se apaixona por mulheres e passa a persegui-las.

Narrada em primeira pessoa, a trama conta todos os mistérios que envolvem os romances, que não são tão perfeitos assim. Joe começa a perseguir as mulheres que se apaixona nas redes sociais até descobrir tudo sobre suas vidas, se mostrando um stalker nato. Ao passar do tempo, o jovem percebe que só vai conseguir a atenção completa de sua amada se eliminar os obstáculos entre eles.

A problemática central da história gira em torno do encontro entre o amor e a obsessão. O espectador consegue acessar os pensamentos doentios do protagonista, como “ela não está usando sutiã para me provocar” ou “ela está usando cartão de crédito para eu saber seu nome”. Pode ser, então, que o público se confunda com o que é real e o que é fruto da imaginação de Joe.

Joe precisa de toda atenção voltada para ele. Quando sua namorada sai com as amigas, com a família e até quando inicia terapia, ele prontamente desconfia e a persegue. Além disso, Joe tem acesso a todo o conteúdo do celular da moça, mostrando que não há confiança e tornando todo o relacionamento uma mentira.

Segundo dados do Instituto Patrícia Galvão, a cada 15 segundos uma mulher é vítima da violência física no Brasil. Além disso, 43% das mulheres sofreram agressões na própria residência e 36,8% em vias públicas. Na resolução dos conflitos, as mulheres preferiram recorrer a familiares em 54% dos casos, enquanto os homens acionaram mais o sistema de justiça.

 Para Estefânia Paulin, Promotora de Justiça de Enfrentamento à Violência Doméstica, os perseguidores, também chamados de stalkers podem confundir obsessão com amor ou paixão. “Num primeiro momento elas gostam disso, da sensação de ciúmes, de ser cuidada porque eles demonstram que aquilo é um cuidado para que ela não use uma roupa curta, um ônibus lotado, mas na verdade ele quer dominar. A hora que ela percebe já esta envolvida e ele empoderado”, afirma.

Segundo a promotora, o ciclo de violência é detectado através de vários episódios anteriores de abusos criminosos. “A vítima demora até 11 anos para denunciar o companheiro por vários fatores. Dependência financeira, filhos ou até amor e conforme ele vai sendo perdoado ele vai se sentindo empoderado e com domínio sobre a vítima”, alerta.