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Mulheres deixam emprego durante pandemia

Publicada dia 01/12/2020 às 13:50:13

Thaís Balielo

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Thaís Balielo


A taxa de participação de mulheres com filhos de até 10 anos no mercado de trabalho caiu de 58,3% no segundo trimestre de 2019 para 50,6% no mesmo período deste ano. Os dados são da pesquisa “Mercado de Trabalho e Pandemia da Covid-19: Ampliação de Desigualdades já Existentes?” realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

“Foi um salto para trás na história do mercado de trabalho. O último resultado abaixo de 50% foi registrado em 1990”, calculou Marcos Hecksher, pesquisador do instituto. Sem creche e escola para as crianças, por conta da pandemia, algumas mães estão dependendo da ajuda de outras mulheres como as avós das crianças, e outras tiveram que deixar seus postos de trabalho para cuidar dos filhos em casa.

É o caso de Juliana Picinin Doretto, 36, que trabalhava registrada há sete anos como auxiliar de escritório e precisou abandonar a função. “No início da pandemia meu marido tirou férias para cuidar do nosso filho de três anos, depois eu tirei. Então, quando nós dois tivemos que trabalhar revezamos entre os avós a ajuda, mas chegou um momento que não deu mais”, conta.

Juliana ainda conseguiu seguir no emprego até recentemente. “Depois que vi que não ia voltar as escolas mesmo eu saí. Realmente não tinha como continuar deixando o Otávio com os avós”, diz. Ela conta que a primeira semana em casa foi mais complicado, mas agora já estabeleceu uma rotina que organizou as coisas. “O lado positivo é que posso aproveitar mais o Otávio. Estamos brincando, fazendo as atividades da escola, estou amando ficar com ele mais tempo já que ele foi para creche desde os cinco meses e só conseguia curti-lo aos finais de semana”, pondera.

Em relação à perda de renda, Juliana espera conseguir conciliar as contas com o acerto e seguro desemprego por alguns meses até poder voltar ao mercado de trabalho. Sobre a função de ficar com o filho em casa ser mais vezes desempenhada pela mulher, Juliana acredita que depende de uma conversa do casal. “Aqui em casa escolhemos isso pela renda do meu marido ser maior, mas se fosse o contrário não teríamos problema algum em inverter os papeis. Acredito que nada impede do homem também ficar em casa. No primeiro mês de pandemia eu fiquei trabalhando e, por 30 dias, o Du ficou em casa cuidando do Otávio e ainda fazendo almoço, e se saiu muito bem!”, afirma.

A educadora física Natália Pegorer Rosseto, 35, também precisou deixar seu emprego de quase 13 anos para cuidar do filho João Pedro, 4. “Os primeiros 15 dias eu pensei que estávamos de férias. Depois começou a ficar muito difícil, o dia inteiro com uma criança dentro de casa, sem ter o que fazer, então todas as dificuldades vieram a tona. Cheguei a ler sete livros de educação infantil nos dois primeiros meses da quarentena, foi muito difícil. Porém, foi extremamente importante, pois as dificuldades me fizeram procurar ajuda, ler, me informar, para poder lidar com situações que não tinha passado antes”, relata.

Em relação à parte financeira, ela explica que foi tudo conversado com o marido, já que a renda iria fazer falta. “Hoje em dia a renda da mulher ajuda e muito no orçamento familiar, mas nós chegamos à conclusão que iríamos nos adequar com a renda dele, e ficarmos responsáveis pelo vínculo e educação do João, sem terceirizar nada”, diz.

Natália acredita que está sendo muito importante esta fase para aumentar o vínculo de somente o casal ser responsável por qualquer atitude e comportamento. “É muito mais fácil arranjar culpados para todo e qualquer mau comportamento. Hoje, nós sabemos que somos os únicos responsáveis, e se não soubermos como lidar, temos que procurar ajuda em livros, pessoas com mais experiência, religiosidade”, argumenta.

No meio da pandemia Natália descobriu que estava grávida e acredita que este período em casa está sendo ótimo para se organizar em relação a bebê, e preparar o João para a irmã que vai chegar.

Raquel de Fátima Pereira dos Santos, 37, trabalha em uma fábrica de pimentas há mais de quatro anos registrada e feliz com o trabalho. Com um filho de 15 anos e duas meninas, uma com três anos e meio e outra com um ano e nove meses, não conseguiu continuar no emprego.

“Mesmo com as duas pequenas sempre consegui trabalhar, pois iam à creche e eu podia trabalhar fora. Quando começou a pandemia, junto veio a dificuldade por não ter com quem deixá-las. Quando fechou tudo ainda consegui permanecer no trabalho, pois a empresa nos afastou por um período. No entanto, quando foi preciso retornar ao trabalho me vi sem chão, pois não tinha com quem deixar as meninas. Minha única solução seria pedir demissão da empresa. Foi muito difícil porque além de trabalhar no que eu gostava e a renda ajudar em casa, infelizmente não teve jeito”, lamenta.

Raquel chegou a pegar alguns serviços esporádicos e fazer comida para fora, mas também não conseguiu conciliar com os cuidados dos filhos. “Espero que ano que vem tudo mude, que esse vírus acabe, tudo volte normal, e que possa conseguir retornar ao mercado de trabalho. Meu emprego faz muita falta, já que nossa família é grande e no momento só meu esposo trabalha”, diz.

“Passei por um período muito difícil quando tive que deixar o trabalho, passei por crises de ansiedade e muita angustia. Sempre trabalhei, tinha minha independência financeira e ajudava na renda da casa, perder isso foi complicado. O lado positivo disso tudo é poder passar mais tempo com os filhos, eles que me deram força para passar por essas crises”, revela.