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Elas no Rock! Presença feminina na plateia é grande, mas muitas lutam para os palcos

Publicada dia 26/07/2023 às 15:48:53

Maria Dinat

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Giovana Dal Posso


“You ain't nothin' but a hound dog
Cryin' all the time”

Você com certeza conhece ou já ouviu essa música, mas não em sua versão original. Regravada por Elvis Presley em 1956, a música foi lançada originalmente por Big Mama Thornton, uma mulher negra, em 1952, e rapidamente se tornou um hit dentro do cenário do R&B americano, e quatro anos depois, ganhou uma versão mais ‘rock’n roll’ com a regravação do grupo masculino,  Freddie Bell and The Bellboys, que em poucos meses foi copiada por Elvis, se tornando a número 19 na lista da Revista Rolling Stone das 500 melhores canções de todos os tempos.

Isso exemplifica a questão da presença feminina no rock: apesar de muito importante para sua construção e desenvolvimento, é muitas vezes apagada e deixada de lado, sendo muitas vezes reconhecidas e reduzidas no cenário a sex symbols ou fãs histéricas. Por diversas vezes, bandas masculinas do gênero, também são responsáveis por essa visão, já que diversos grupos pingam misoginia de suas letras.

Ao longo dos anos, a presença feminina na cena veio crescendo. Tina Turner, Cássia Eller, Janis Joplin e Rita Lee marcaram gerações com suas músicas e formas de revolução. Atualmente, nomes como Hayley Willians, Pitty, Amy Lee e diversas outras mulheres ocupam seus espaços na mídia.

Em Santa Cruz do Rio Pardo, quem passava pelo Rock Rio Pardo na sexta, sábado, ou domingo, notava fortemente a presença de mulheres no festival, de diversas idades. Na 21ª edição, uma mulher se apresentou no palco além da cantora Pitty - Ninne Monzani. Aos 36 anos, ela é vocalista da banda Fenícia e se apresentou nos palcos do festival no último dia, fazendo a estreia da banda no evento. Seu envolvimento com a música começou por influência e incentivo de seu irmão mais velho, também cantor, por volta dos meus 9 anos de idade. Já o lado compositora surgiu com o nascimento da Fenícia, quando ela tinha 17 anos.

A banda de rock independente,  que existe desde 2006, já lançou dois álbuns: “Fenícia” no ano de estreia,  e “Consciência Desafinada” em 2011. Confira a entrevista com a vocalista a seguir:

Atual - Como você descreve a experiência do show?
Ninne -
 A gente sempre fica muito feliz com a oportunidade de ocupar mais um palco, poder dividir o nosso trabalho, nossas composições com novas pessoas e se entregar para as trocas que surgem, seja com o público, artistas e equipe. É sempre uma soma! Foi uma experiência incrível Que estrutura fod*, e  que palco!

Atual - O público Rock Rio Pardo vêm aumentando cada vez mais nos últimos anos, e crescendo principalmente na presença de jovens e mulheres. Apesar disso, você e a Pitty foram as únicas cantoras a se apresentarem nesta edição. Para você, porque ainda se tem uma pequena presença de apresentações femininas nestes espaços?
 Ninne -
Pois é. Sou muito grata pelo convite do Rock Rio Pardo, me sinto muito honrada por isso e espero voltar nas próximas edições e encontrar cada vez mais mulheres com seus projetos e trabalhos. Mas é isso, a desigualdade de gênero se faz presente em todos os cenários e na música não é diferente, em especial no rock. Por mais que tenhamos avançado bastante ocupando cada vez mais esses espaços, precisamos ainda refletir, questionar, problematizar e até cobrar posicionamentos e ações das organizações dos festivais de um modo geral. A conversa precisa ir além de nós mulheres, senão ficaremos sempre no “nós por nós”. Homens também precisam se organizar e se responsabilizar por isso, entender que para avançarmos temos que agir juntos na construção desses espaços e oportunidades. E também estender a reflexão para além das figuras no palco, é também sobre a equipe, os bastidores, a produção e a curadoria.

Atual -  Como é ser uma mulher no mundo do rock? E qual a importância dos festivais valorizem e divulguem essa presença?
 Ninne -
Sou tão feliz e realizada por poder viver a minha escolha, mas o sexismo no rock é um reflexo do que ocorre em outros setores da sociedade, então o tempo todo “preciso estar atenta e forte”, mesmo entendendo que ainda sim vivencio condições privilegiadas por estar dentro de diversos padrões. Se hoje sou e estou, é por conta de outras que ocuparam antes e ajudaram na construção desses caminhos. Por isso a necessidade de festivais que valorizem e divulguem nossa presença, dentro e fora dos palcos, pois precisamos de oportunidades e nos reconhecemos e identificamos nesses espaços e estruturas. Representatividade é importante sim! Quanto mais mulheres, e aqui entenda mulheres em seus modelos femininos diversos, plurais, para além dos padrões impostos,  ocupando esses espaços, mais meninas e mulheres inspiradas e interessadas em ocupar os mesmos.

 Atual - Além de ‘O Que Eu Não Contei’, a partir de julho vocês estariam lançando mais músicas. Pode contar um pouco sobre os futuros projetos? Onde o público pode encontrar as músicas da banda Fenícia?
 Ninne -
Isso mesmo! “O Que Eu Não Contei” é a primeira das cinco canções que virão até novembro deste ano, uma vez que lançaremos um single por mês. Ao mesmo tempo, a partir de setembro estaremos com o lançamento da turnê “No Tempo”, que traz um novo show onde as músicas mais atuais se unem com algumas composições mais antigas para contarmos a história dessa nova fase que grita alto nossa identificação como uma banda de rock do Brasil. Para estarem por dentro de tudo e a gente poder se conectar, convido vocês a nos seguirem nas redes sociais, a ouvirem nosso som que está nas principais plataformas digitais de música e a estarem presentes em nossos shows. Será um prazer receber todo mundo.