Circo: vivendo com o pé na estrada
Thaís Balielo

Santa Cruz está acostumada a receber regularmente circos. Os santa-cruzenses vão prestigiar o espetáculo e levar seus filhos. No entanto, poucos sabem como é a vida dos artistas e trabalhadores do circo que vivem viajando e morando um pouco em cada cidade.
O Circo Balão Mágico que passou recentemente por Santa Cruz conta com cerca de 60 pessoas que vivem com o pé na estrada levando os espetáculos para diversas cidades do país.
Malabarista, apresentador e motociclista do globo da morte, Carlos Magno Anton Aires, 28, revelou que já é a quarta geração de artista de circo da família. Todos motociclistas. “Globo da morte sempre foi a tradição da família. Também sou apresentador e faço malabarismo. No circo temos que fazer um pouco de tudo, inclusive participar da divulgação e montagem”, diz.
Casado e com uma filha de 5 anos, Magno explica que a criança de circo estuda normalmente. “Minha filha está na pré-escola. Claro que é um pouco mais complicado ter que ficar fazendo a transferência de uma escola para outra em cada cidade que passamos. Temos que acompanhar em casa para dar suporte”, revela.
Sobre a filha seguir a carreira de circo, Magno explica que a criança de circo brinca de circo. “Ela tem o trapézio dela que ela brinca, tem uma lira. Tem todos os aparelhos de circo. Ela tem a liberdade para escolher. Nós damos o início, faz balé, jazz, ginástica olímpica. Já coloca desde pequeno para dar o início, então será com ela para escolher o que fazer”, diz.
Magno contou que as crianças que já começam a escolher o que quer fazer no circo passam a ter aulas especiais. Os artistas ou professores específicos fazem treinamento com elas regularmente. “Quando eles já têm uma ideia do que querem fazer já começam a aprender. Eu com 9 anos já estava no globo da morte”, revela.
Magno conta que a esposa não era de circo, mas que mudou de vida para o acompanhar. Hoje ela faz parte do globo da morte com ele. No último ano a família trabalhou em circos em outros países. Eles estiveram na França, Irã e Turquia. “Minha filha de 5 anos já conhece 6 países. Estávamos bem com nossa família, mas por causa dos estudos dela resolvemos voltar para o Brasil. No Brasil já conheço 26 estados”, relata.
Para Magno a grande vantagem de viver no circo é não ter rotina. “Cada cidade é uma coisa diferente. Cada trailer é uma família, mas é igual uma vizinhança de rua. As crianças são amigas entre elas e também fazem amigos pelas cidades que passam. Minha filha está sempre em vídeo chamada com as amigas”, revela.
A esposa Larissa Lopes, 25, morava com os pais em Mato Grosso do Sul quando o circo de Magno passou pela cidade. “Ele me trouxe para este mundo e logo entrei para a equipe do globo da morte. Para mim a graça é justamente não ter rotina. Não tenho saudades de ficar direto no mesmo local”, afirma.
O motociclista Reinaldo Pereira da Silva, 28, é o primeiro artista de circo da família. Ele foi criado em circo, pois o pai era eletricista e viajava junto do circo. Ele acredita que a convivência com os artistas o fez se interessar pelo globo da morte. Ele conta que os filhos já demostram interesse pela arte. A menina de 5 anos se interessa por mágica e o mais novo de 2 anos por motos.
Zeilda Amorim de Brito, 31, trabalha no circo há 15 anos. O marido é eletricista e ela cuida das vendas de algodão doce. A filha de 9 anos já está fazendo aulas para ser equilibrista. “Acho bonito. Surgiu dela esta vontade de ser artista”, conta.
Filha de artista de circo, Jéssica Vila Real, 27, hoje cuida da parte administrativa, mas já participou de números com trapézio. Hoje ela cuida da parte administrativa e os filhos e marido viajam juntos. Sou nascida e criada no circo. Já fiz trapézio. Sempre gostei de altura, mas agora parei”, relata.
Neri da Silva, 40, o palhaço Danoninho, contou que trabalha em circo há 22 anos. “Meu avô era circense e agora eu assumi. Este já é o sexto circo que eu passo. Trabalho com tudo, malabares, faço o palhaço, monto, desmonto, faço propaganda”, conta. Com um filho de 4 anos, Danoninho acredita que ele irá seguir a carreira de circo e será a terceira geração da família no ramo.