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Round 6 viraliza, mas se torna perigo para crianças

Publicada dia 05/11/2021 às 11:42:07

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Sucesso da plataforma de streaming Netflix, a série Round 6, ou Squid Game, não foi feita para crianças. A temática fala sobre pessoas endividadas que aceitam participar de um jogo com brincadeiras infantis e com um grande prêmio em dinheiro no final. No entanto, o que eles descobrem só dentro do jogo é que os eliminados, na verdade são mortos.

Apesar da popularização entre os pequenos, a série tem classificação mínima de 16 anos, já que possui diversas cenas de violência. As brincadeiras também estouraram nas redes sociais e existem diversos vídeos ensinando as regras dos jogos. Na França, cinco crianças foram levadas a um hospital após uma brincadeira que simulava os jogos da série, acendendo a discussão sobre o controle dos pais sobre o que os filhos assistem. O psicólogo, perito judicial e especializando em neuropsicologia, Felipe Galan, falou com o Atual sobre o assunto.

Atual - A série tem classificação de 16 anos, mas estando disponível na internet pode atingir outras idades de crianças sem supervisão. Quais os problemas que podem ocorrer no caso de crianças assistirem?

Felipe Galan – De acordo com a neurociência, uma das regiões cerebrais com o desenvolvimento mais lento é o córtex pré-frontal. Esta área é responsável pela autorregulação das nossas atitudes e pelo controle dos nossos comportamentos emocionais mediante um evento estressante. Como esta parte cerebral demora mais para se desenvolver e só atinge sua maturidade na fase adulta, isso faz com que as crianças não tenham um cérebro 100% capaz de raciocinar, refletir ou controlar seus impulsos e desejos. Com isso, elas perdem a noção do quanto esta série do Squid Game, por exemplo, pode impactar negativamente em suas percepções de mundo. Com isso, é capaz de afetar tanto no processo de formação de normalidade social, ou seja, achar normal viver em uma sociedade cujos métodos punitivos sejam violentos, quando alguém comete algum erro ou tanto em machucar alguma pessoa por achar o sofrimento alheio algo engraçado, como evidência em Round 6 (Squid Game).

Atual – Qual o risco de misturar uma série com mortes ao universo de brincadeiras infantis?

Felipe Galan – Os jogos infantis supõem inocência, algo alegre, divertido e em nenhum momento é atrelado a algo ruim, violento e assustador. Por isso, os filmes de terror exploram figuras infantis e religiosas para assustar, pois é algo que você não está esperando, vem disfarçado. Alguns fatores contribuem para explicar o porquê uma série que trata de assassinatos, suicídio e tráfico de órgãos faz tanto sucesso entre o público em geral, e uma delas é a simbologia. Esta é representada por meio de brincadeiras infantis, com cenários coloridos e bem infantilizados. E este contexto, contribui para aproximar a série ao universo das crianças e passar um ar mais leve e aceitável para todos. Mas com as cenas de violência, a sensação de brincadeira inocente é colocada de lado, e logo, estimula um medo não esperado em quem assiste. Esse ambiente infantil de serenidade, carinho e de pureza dos jogos infantis é a visão que os pais possuem sobre a série, fazendo com que eles não se preocupem muito em se aprofundar nos episódios disfarçados de Squid Game. Sendo assim, este é o risco mais grave, em razão de que nem sempre o que é visto como algo infantil, pode ser chamado de seguro.

Atual – Já foi noticiado que crianças foram parar no hospital imitando uma das brincadeiras da série. O que os pais devem fazer? Apenas proibir ou ter uma conversa franca e explicar sobre a série?

Felipe Galan – Como o processo de julgamento (certo e errado) e de autorregulação em nossos cérebros só atinge sua capacidade de maturação completa na fase adulta, faz-se necessário o auxílio dos pais para intermediar ao que seus filhos assistem. A disseminação da série entre os mais jovens é um sintoma do quanto os pais não estão cuidando, supervisionando e até controlando os passos de seus filhos. Com a facilidade do celular e da internet, as crianças têm na palma de suas mãos uma quantidade de informações inapropriadas, como: conteúdos sexuais, violentos e depravados. Desse jeito, os pais precisam urgentemente ter um controle do que seus filhos navegam na internet: quais os sites que entram e principalmente, com quem conversam. Logo, o foco é sempre ensinar, supervisionar, questionar saudavelmente e o mais importante, procurarem se interessar pela trajetória de vida de seus filhos. Aliás, é relevante também, a família criar um ambiente acolhedor, para conversar e explicar quando seus filhos verem uma série como essa.