Prevenção ao suicídio: ajuda pode vir por telefone
Jornal Atual

É madrugada. Um telefone faz uma ligação e outro toca. Imediatamente, uma gravação pede alguns segundos e logo alguém atende: “CVV, boa noite, gostaria de conversar?”
Buscar ajuda por telefone se tornou de graça e sigilosa. Desde o ano passado, o número do Centro de Valorização da Vida (CVV), o 188, está disponível em todo o território nacional graças a uma parceria com o Ministério da Saúde.
O CVV, órgão sem fins lucrativos que funciona desde 1962, é dedicado a escutar qualquer pessoa que esteja passando por dificuldades, funcionando como uma prevenção ao suicídio. Em 2018, recebeu cerca de 2,5 milhões de ligações.
Segundo Félix Flor, servidor público e voluntário há quatro anos, as pessoas procuram a instituição porque precisam desabafar e contar histórias que, muitas vezes, amigos e familiares não aguentam mais ouvir.
“Imagina a caminhada que essa pessoa já deve ter feito para pegar o telefone e falar sobre suas angústias para uma pessoa que ela não conhece”, diz Antônio Batista, voluntário há 18 anos, “Falar do seu íntimo não é uma coisa tão simples”, fala.
Para a psicóloga Tatiane Lisboa, o trabalho desenvolvido por esses voluntários é de grande valia, para que a pessoa portadora de transtorno depressivo, bipolar, ansioso ou qualquer outro tipo de questão que necessite de apoio emocional. “Muitas vezes o CVV serve como primeiro apoio a esse indivíduo em situação de crise, por não querer, no momento, expor sua situação emocional à família, provavelmente com receio dos possíveis julgamentos ou por não achar que isso seja realmente importante”, afirma. Segundo o Ministério da Saúde, todos os dias cerca de 30 pessoas tiram a própria vida no Brasil.
Para os voluntários do CVV, o suicídio, em si, é uma ação impulsiva, mas há um processo por trás do ato: isolamento, desistência de hobbies, falta de contato com a família e amigos podem ser interpretados como sinais. Depressão e o abuso de álcool e drogas também exigem atenção. “Se a pessoa diz que vai embora, que quer sumir, que um dia vai acabar com tudo, é preciso ficar atento”, diz Elaine Macedo, gestora institucional e voluntária há 23 anos.
Segundo a Organização mundial da Saúde (OMS), os idosos correspondem à faixa etária de maior risco para o suicídio. No Brasil, a taxa de mortalidade entre pessoas com mais de 70 anos chegou a 8,9 a cada 100 mil habitantes entre 2011 e 2015.
A taxa de suicídio também é alta entre os jovens: é a quarta maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos no Brasil. Dentre os adolescentes que contatam o CVV, muitos expõem histórias de conflitos com os pais, amigos e preocupações com a escola.
Já os jovens adultos relatam o medo de não conseguir um emprego, falam sobre relacionamentos complicados e sobre sua própria solidão. “Os dias da semana também influenciam nas ligações”, diz a voluntária Elaine. “A noite de sexta-feira, quando o jovem ‘deveria’ ir pra balada, mas se sente sozinho, é diferente de uma noite de um domingo, quando as pessoas estão preocupadas com questões relacionadas ao emprego”, diz.
Além do número 188, o CVV disponibiliza atendimentos presenciais, por chat e por e-mail. Segundo a OMS, 90% dos casos de suicídio poderiam ser prevenidos.