< Voltar

Paternidade ausente: como ensinar as crianças a lidarem com o assunto

Publicada dia 24/08/2023 às 17:44:26

paternidade-ausente-como-ensinar-as-criancas-a-lidarem-com-o-assunto

Giovana Dal Posso


Em Santa Cruz do Rio Pardo, cada vez mais crianças estão nascendo sem o registro do nome do pai na certidão de nascimento. Esse dado mostra que o abandono de paternidade vem crescendo, mas quais são as consequências emocionais para quem fica? Buscando entender mais sobre esse tópico, o Atual conversou com a terapeuta Maria Clara Machado sobre o assunto. Confira:

Atual:  Dados do Conselho Nacional de Justiça apontam que 5,5 milhões de crianças brasileiras matriculadas em escolas não têm o nome do pai na certidão de nascimento. Sabemos também que o ambiente em que a criança cresce exerce um papel fundamental em seu desenvolvimento. Pensando nisso, como e em quais aspectos o abandono paterno mais influência na vida da criança?

Maria Clara: Faz-se necessário analisar cada caso individualmente, pois existem diversas razões para isso acontecer. Uma das causas mais comuns é a total indisponibilidade do homem em exercer a função de pai, que por muitas vezes também sofreu e ainda sofre a ausência da figura paterna em sua vida.

Uma grande lacuna emocional se forma na vida de todos os envolvidos, trazendo sentimento de luto, revolta, sensação de vazio, paralisia e um peso enorme em questões cotidianas. Lembrando que essas são algumas das sensações que podem se apresentar na vida de alguém que passou pela experiência do abandono da figura paterna. Todas essas sensações, emoções e sentimentos vão impactar de alguma forma a vida dessa pessoa, que pode se apresentar em diferentes fases da vida.

Quando algo começa a incomodar, tanto no sentido emocional, quanto físico, um sinal de alerta deveria ser acionado, para que assim fosse possível procurar ajuda o quanto antes. Ou seja, isso é algo que todos deveriam aprender desde bem pequenos, para que pudéssemos entender e observar os nossos pensamentos, a nossa respiração, e assim aprender como sentimos e reagimos diante das adversidades da vida. O grande problema é que não aprendemos dessa forma, e por isso, fica difícil para nós, enquanto adulto, ouvirmos nossas crianças, o que elas pensam, o que elas sentem, e somente quando a criança apresenta um alto grau de desequilíbrio emocional ou físico é que paramos para avaliar o que está realmente acontecendo. Sendo assim, é se estendido muitos anos da vida dessa criança para tratar essa falta. 

Atual: Como os responsáveis podem ajudar a criança a passar por esse momento? 

Maria Clara: Uma experiência de vida como essa, é extremamente difícil conseguir superar sozinho, portanto a ajuda de um profissional de confiança é de extrema importância. Todas as pessoas que estão envolvidas emocionalmente ficam limitadas a enxergar e achar uma saída para amenizar a dor, o vazio, a raiva e o sofrimento da criança.

O meu convite de processo terapêutico para os meus clientes, tem como base, olhar para a família em um todo, ajustando e equilibrando a parte emocional. Assim, as mudanças começam a acontecer de dentro para fora, a antiga forma de sentir e agir começam a se transformar e as mudanças vão se apresentando, de acordo com o avanço no tratamento. As dores, raivas e angústias vão se desfazendo, aquele fardo pesado se torna mais leve (esse é o relato que ouço com mais frequência nos meus atendimentos) mostrando que sempre conseguimos viver com mais leveza, e que tudo, é uma questão de ajuste.

Quanto antes essa família começar a ser assistida por um profissional, mais leve o processo se torna, pois será bem conduzido e amparado para todas as partes envolvidas. Não existe uma receita ou um passo a passo engessado para alcançar tal objetivo, sempre digo para meus clientes que eles sabem o que devem fazer e como, apenas não descobriram o caminho.