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Hábitos alimentares do bebê começam a se formar ainda no útero

Publicada dia 29/09/2020 às 09:22:38

Arquivo Pessoal

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Diego Singolani


Para muitas mulheres, a gravidez é um momento de descobertas, ansiedade e preocupações - entre estas, a alimentação ocupa um espaço importante. O discurso de “comer por dois” faz sentido, desde que não seja usado como desculpa para se empanturrar de doces e frituras. Mas, afinal, qual a dieta ideal para a gestante e o bebê? Não existe uma única receita aplicável a todas as mulheres, já que o organismo de cada uma determinará as suas necessidades. Há recomendações, contudo, que podem ser consideradas universais, como a moderação no dia a dia. Mais do que isso: é certo que as escolhas alimentares da mãe irão impactar não somente na gestação, mas no desenvolvimento da criança ao longo da vida. O Atual conversou sobre o assunto com a nutricionista Michele Kampf Dierka, que atua na área de nutrição materno infantil. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

Atual - Qual a importância de uma boa alimentação na gravidez para a mamãe e o bebê?    

Michele Dierka - Uma alimentação saudável é de extrema importância durante a gravidez para garantir todos os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento do bebê. Tudo o que ocorre durante este período terá impacto em longo prazo vida da criança. Além disso, a boa alimentação assegura o ganho de peso ideal e o estado nutricional da mãe, já que as reservas feitas durante a gestação são de fundamental importância no momento do parto e para a amamentação. Sabemos também que um adequado ganho de peso gestacional reduz o risco de diversas complicações para mãe e para o bebê, por isso é tão importante ter um cuidado redobrado com a alimentação durante a gestação. Além disso, a partir do segundo trimestre de gestação, as papilas gustativas do bebê já estão formadas. Não se sabe ao certo com quantas semanas o bebê começa a sentir o sabor dos alimentos, mas sabemos que ele tem contato com o sabor dos alimentos que a mãe ingere através do líquido amniótico ainda no útero. Portanto, a alimentação da mãe já interfere na formação dos hábitos alimentares e preferências do bebê mesmo antes no nascimento.

Atual - O que não pode faltar no prato da gestante?

Michele Dierka - Não existe uma composição exata ou uma receita única que seja ideal para todas as gestantes, mas a rotina alimentar da mãe deve ser baseada em alimentos in natura de todos os grupos alimentares como frutas, verduras, legumes, cereais integrais, carnes, ovos, leguminosas, laticínios, entre outros, que são alimentos ricos em vitaminas, minerais e fibras. Por outro lado as frituras, alimentos processados, ricos em gordura e ricos em açúcares devem ser evitados.

Atual - Quantas refeições a gestante deve realizar ao longo do dia?

Michele Dierka - Isso vai depender muito da rotina como um todo, mas é recomendado fazer uma refeição a cada 3 horas, sendo assim, poderíamos dividir em: café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia. Durante a gravidez, principalmente após o segundo trimestre, a demanda energética aumenta e como a glicose é a principal fonte de energia, longos períodos sem se alimentar podem fazer com que o corpo passe a usar as reservas que estão se formando, que serão muito importantes para amamentação no futuro. No início da gestação é muito comum as mães sentirem enjoo por conta das mudanças hormonais que estão acontecendo. Nestes casos, recomendo aumentar o número de refeições ao longo do dia e diminuir a quantidade de alimentos em cada refeição, pois desta forma é possível minimizar estes sintomas.

Atual - Existem alimentos que devem ser evitados ou consumidos com moderação neste período?

Michele Dierka - Recomenda-se evitar o consumo de carnes cruas ou mal passadas e ter muito cuidado em relação a higienização de frutas, verduras e hortaliças pensando na contaminação por toxoplasmose. Gestantes também não devem consumir adoçantes de maneira geral (em casos específicos, seu nutricionista ou obstetra pode indicar um seguro), alguns chás como boldo, canela e hortelã também não devem ser consumidos. A canela deve ser evitada principalmente no primeiro trimestre, podendo ser consumida em pequena quantidade com aval dos profissionais de saúde que estão acompanhando a gestante. Alimentos ricos em cafeína, como o próprio café, chocolate, guaraná,  devem ser consumidos com moderação por serem vasodilatadores e estimulantes. Além disso, qualquer tipo de bebida alcoólica deve ser evitada durante toda a gestação.

Atual - Há uma estimativa de quantos quilos a mulher deve engordar durante a gestação?  

Michele Dierka - Sim, existe uma tabela que traz uma estimativa de quantos quilos a gestante deve ganhar de acordo com seu estado nutricional inicial. A faixa de variação para o mesmo grupo é grande, por isso há necessidade de uma avaliação individualizada para que se possa levar em consideração todos os fatores envolvidos na hora de definir a meta, justamente pelo fato do ganho de peso adequado estar relacionado a menores riscos para mãe e bebê.