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Em 2023, Saúde mental da população LGBTQIA+ ainda é considerada tabu

Publicada dia 24/05/2023 às 18:37:49

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Giovana Dal Posso


Uma pesquisa realizada pelo Datafolha em 2022 ouviu mil jovens entre 15 e 29 anos de 12 das maiores capitais do país para mapear a saúde mental dessa parcela da população. Com ele, foi possível perceber que 92% das meninas, mulheres e jovens LGBTQIA+ apresentaram algum problema de saúde mental. Os dados, preocupantes, trazem à tona uma parcela dos problemas enfrentados por esse grupo, junto da reflexão sobre como essa pauta é deixada de lado por muitos profissionais, organizações e órgãos públicos. 

Natália Dias de Campo é psicóloga, e explica que os casos mais comuns encontrados dentro da clínica de psicologias, por consequências do preconceito e da falta de amparo sofridos pela comunidade LGBTQIA+, são ansiedade, depressão, automutilação e até mesmo pensamentos suicidas. “Muitos desses processos são marcados pela rejeição de pessoas próximas, falta de oportunidades e preconceitos. ´Pessoa desse grupo são mais suscetíveis a desenvolverem doenças psiquiátricas comparadas a pessoas heterossexuais, isso acontece devido a discriminação, desvantagens dentro da nossa sociedade extremamente preconceituosa e pela desigualdade”, explica. 

Muitas vezes, a falta de amparo da família é a causa de muito sofrimento para a comunidade. Aceitar essa situação pode ser doloroso, mas a psicóloga explica que podem haver maneiras de “fazer as pazes” com isso. “Quando você ouve a palavra família provavelmente surge uma imagem na sua mente, para cada pessoa essa imagem aparecerá de uma forma, podendo ser negativa ou positiva, isso depende muito das suas experiências pessoais em relação a família. Muitas vezes essa falta de amparo faz com que a pessoa internalize a família de uma forma negativa, e muitas vezes se sente culpada por ver a família como ‘ruim’. Para ’fazer as pazes’ é importante analisar essa relação com questionamentos que tragam respostas, como por exemplo, o quanto minha família me faz bem? O quanto eu me sinto acolhida? Eu quero estar aqui porque minha família de fato me faz bem ou porque a sociedade cobra boas relações familiares? O quanto eu me anulo para manter uma boa relação? Encontrando essas respostas, também será possível encontrar um ponto de equilíbrio na relação com a família, impondo limites e se sentindo melhor”, afirma. 

Pessoas LGBTQIA+ podem ter receio de procurar um especialista para tratar da saúde mental, por que muitas vezes acabam não encontrando o apoio necessário e profissionais despreparados. Natália conclui que o principal fator para uma boa relação entre psicólogo e paciente é o vínculo, e para conseguir um bom vínculo é importante procurar um profissional do qual se identifique, que se sinta confortável para trazer as questões que lhe aflige. “Em relação aos psicólogos seguimos o código de ética profissional onde é vedado induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais. Também é necessária uma atualização contínua em relação a todos os temas possíveis, nossa sociedade muda a cada dia, então é importante que nos preparemos para isso, cursos, aperfeiçoamentos e leituras podem ajudar muito para se preparar para novas demandas”, finaliza.