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Drogas: pandemia alterou hábitos de consumo

Publicada dia 22/10/2020 às 11:19:17

Arquivo Pessoal

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Diego Singolani


A pandemia e o isolamento social alteraram a dinâmica de praticamente toda a sociedade. Em alguns setores, o impacto é evidente, mas existem aqueles à margem, ou obscuros, que também sofreram mudanças sensíveis. É o caso dos usuários de drogas, como explica o médico Bruno Rasmussen Chaves, clínico geral e gastroenterologista, e pesquisador em dependência química. "O que se tem observado, principalmente na Europa, onde há dados mais confiáveis do que no Brasil, é que diminuiu o consumo de estimulantes (cocaína, ecstasy) e aumentou o de 'sedativos', como álcool, benzodiazepínicos e maconha", afirma. 

De acordo com o médico, o fenômeno pode ter como fundo a mudança de ambiente, já que os estimulantes não são indicados para o consumo em casa, com a pessoa sozinha. "São de uso mais social, mesmo. Já as outras substâncias cabem melhor para o uso solitário", explica. Outro fator importante, segundo o especialista, é que, muitas vezes, o uso de drogas acompanha alguma dinâmica familiar problemática e a convivência forçada na pandemia potencializa estes problemas, levando a um maior uso de substâncias. "O uso de drogas decorre de um estado mental da pessoa. Qualquer mudança para pior deste estado, (como a depressão da pandemia, por exemplo, pelo isolamento social) pode piorar esse quadro e aumentar o uso", diz Bruno Chaves.

O médico alerta que o aumento do uso dessas substâncias - especialmente no caso do álcool - também tem levado a mais casos de violência doméstica, ao ponto de alguns países sugerirem a suspensão da venda de bebidas alcoólicas durante a quarentena. Ainda que a predisposição genética deva ser considerada, sobretudo em relação ao álcool, pois já existem estudos conclusivos, fatores familiares, traumas, de infância ou não, angústias que a pessoa tenha, podem ser motivos para que ela tente se “anestesiar”, usando alguma droga para fugir do sofrimento psíquico. “A grande dificuldade é que os tratamentos disponíveis têm baixa eficácia. Muitos dos remédios utilizados não funcionam bem. Cada caso evolui de maneira própria e os resultados são bem variados. Mas de modo geral, se considera que a melhor abordagem é a psicoterapia, ajudar a pessoa a encontrar as raízes desses problemas que a estão fazendo sofrer e necessitar do uso de drogas e álcool”, explica o especialista. “Ajudar a pessoa a aprender a enfrentar e resolver as situações sem precisar se anestesiar. Alguns medicamentos que tentam tirar a vontade de usar ou diminuir a ansiedade e melhorar o humor  podem ser usados também para ajudar a psicoterapia. É importante vencer o preconceito, encarar a pessoa que está passando por isso como alguém que precisa de uma ajuda, e não como uma pessoa mau caráter ou sem vergonha, isso apenas piora o estigma contra essa situação de uso problemático de drogas”, alerta Bruno Chaves.