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Conheça a pericoronarite, doença que pode afetar os dentes do siso

Publicada dia 14/09/2017 às 10:16:44

Renan Alves

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Dor, incômodo na hora de mastigar e até mesmo falar podem significar uma coisa: o nascimento do juízo.

Embora seja encarado de forma bem-humorada, devido às piadas relacionadas à maturidade, o dente do siso pode causar problemas, principalmente pelo fato de que muitas vezes ele não chega a nascer completamente, causando dores e em casos mais extremos, provocando o desenvolvimento da pericoronarite.

Recentemente, a doença afetou até mesmo a cantora Pabllo Vittar, que cancelou sua agenda de shows devido à infecção. Aliás, não só a pericoronarite, mas qualquer infecção de origem dentária pode ter repercussões graves, a exemplo do ocorrido também recentemente, com a modelo Renata Banhara, que chegou a desenvolver uma infecção cerebral como consequência de uma infecção de um dente com problema de canal.

Devido à repercussão do assunto, conversamos com o cirurgião-dentista Marcos Capelari, especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial e Implantodontia pela USP, para responder os principais questionamentos acerca da doença. Confira a entrevista na íntegra logo abaixo.

 

Jornal Atual: O que é a pericoronarite?

Marcos: Trata-se de um processo patológico definido como uma infecção em torno da coroa de um dente. Pode se manifestar em qualquer dente das arcadas dentárias, no entanto é mais comum estar associado aos terceiros molares, popularmente conhecidos como dentes do siso ou do juízo, dentes estes usualmente semirretidos, ou parcialmente irrompidos, onde se verifica a formação de crescimentos gengivais por sobre a sua coroa, por vezes na forma de capucho ou capuz, onde resíduos alimentares se depositam, facilitando a proliferação de bactérias e induzindo a um processo infeccioso. Dos acidentes e complicações relacionados aos dentes retidos ou inclusos, é o mais comum, classificado como acidente infeccioso (existem também os acidentes mecânicos, nevrálgicos e neoplásicos).

Pode cursar de um processo infeccioso brando, com dor e inflamação local, a quadros mais graves e invasivos, tais como abcessos bucofaciais, Angina de Ludwig (infecção grave na região cervical), fasceítes necrotizantes, e até mesmo mediastinite, ou ainda, septicemia, ou seja, infecções de elevada gravidade e generalizadas, ou disseminadas, implicando inclusive em risco de morte para o paciente acometido.

 

Jornal Atual: Quais são as principais causas?

Marcos: A causa mais frequente é a deposição de resíduos alimentares em áreas retentivas entre a coroa dentária e a gengiva circundante, por dificuldade ou deficiência de higiene bucal local por parte do paciente, ou muitas vezes por impossibilidade da sua realização, usualmente em dentes mal posicionados ou com ausência de espaço para sua acomodação na arcada dentária. Tais restos alimentares ou a própria placa, ou biofilme bacteriano, induz a formação de um processo inflamatório e infeccioso, que é a doença em si. Outros fatores também são determinantes para o aparecimento de tal doença. Assim, traumatismos crônicos locais podem predispor ao seu desenvolvimento, bem como, pacientes imunossuprimidos, ou seja, com uma reação imunológica deficiente, podem também ser afetados. Lembrando que a imunossupressão pode estar associada às doenças infectocontagiosas, etilismo crônico, algumas doenças sistêmicas, a exemplo do diabetes, uso de drogas ou determinados medicamentos, dentre outras condições.

 

Jornal Atual: Quais os principais sinais e sintomas?

Marcos: Como sinais clínicos característicos, temos o avermelhamento (eritema) local da gengiva envolvida, o aumento volumétrico da mesma, com ou sem formação de aftas (Ulceração), pus (secreção purulenta), sangramento ao toque, e por vezes, febre, salivação excessiva (sialorreia), mau hálito (halitose), além de prostração e mal estar geral. O sintoma clássico é a dor local intensa, que pode irradiar para a região da Articulação Temporomandibular (ATM), ou o ouvido, simulando uma otalgia (dor de ouvido).

 

Jornal Atual: Como é feito o diagnóstico? E o Tratamento?

Marcos: O diagnóstico é eminentemente clínico, ou seja, um exame físico local bem conduzido, uma anamnese e história da evolução do quadro sintomatológico da doença, costuma ser suficiente para o diagnóstico conclusivo, dispensando outros exames complementares neste momento. Já, o tratamento consiste em duas etapas, em um primeiro momento, o tratamento urgencial e paliativo, com a utilização de antibióticos e/ou quimioterápicos, analgésicos e soluções antissépticas como o colutório, que tem como objetivo a cronificação de um quadro agudo infeccioso. A segunda etapa consiste no tratamento definitivo ou resolutivo, cuja finalidade é criar condições de higiene local e a sua manutenção, seja por acomodação de um dente mal posicionado na arcada dentária, por vezes utilizando-se de aparelhos ortodônticos, outras vezes por plastia gengival, com a remoção de áreas retentivas de resíduos alimentares, as chamadas cirurgias de gengivoplastia, ulotomia ou ulectomia, ou ainda, em situações extremas, onde a permanência do elemento dentário seja contraindicada, opta-se pela extração do mesmo, caso comum aos terceiros molares, os “dentes do siso”.