Ausência de menstruação possui causas que vão além da gravidez
Mariana Pires

Quando falamos em atraso menstrual, a primeira conclusão que vem a cabeça de muitas pessoas é a da gravidez. No entanto, apesar de ser um dos primeiros sinais da concepção, nem sempre a ausência menstrual significa bebês à vista.
“Quando uma mulher que tem vida sexual ativa não menstrua, a primeira coisa que se pensa é em gravidez. No entanto, se ela já estiver na faixa dos 40 a 55 anos, pode significar o final do período reprodutivo, que é marcado pela menopausa” explica o médico ginecologista João Antônio Torres Peres. “Entre outras causas podemos citar a ausência de ovulação regular, como acontece na síndrome dos ovários policísticos, hipertiroidismo, excesso de atividade física, e outras alterações hormonais”, afirma.
De acordo com o médico, a amenorreia é muito comum durante a adolescência, já que após a menarca, as meninas ainda não ovulam e o amadurecimento do sistema hormonal, responsável pela ovulação, pode demorar até cinco anos para acontecer. “Em decorrência disso, muitas adolescentes não menstruam”, afirma. “Neste período os ovários podem apresentar um aspecto multifolicular, que acaba levando a muitos diagnósticos equivocados e precoces de Síndrome dos Ovários Policísticos”. Peres explica que esse diagnóstico só deve ser feito a partir dos dezoito anos de idade.
Outro fator que pode influenciar na regularidade do ciclo menstrual é o estresse e o uso de anticoncepcionais orais ou injetáveis. Muitas mulheres, após suspender o uso do medicamento, reclamam da ausência de menstruação. Esse atraso é causada pelo fato do hipotálamo, a área do cérebro responsável pela liberação hormonal, demorar em voltar a funcionar normalmente, o que pode levar até seis meses.
No caso da influência emocional e psicológica, o atraso pode ser explicado pela interferência que uma situação de estresse pode causar sobre a produção hormonal. “O nervoso e a ansiedade podem levar à alteração de um neurotransmissor chamado dopamina, que inibe a produção dos hormônios hipofisários, como o estrogênio, a progesterona e a testosterona”.
Peres salienta a necessidade de ser feito um diagnóstico preciso antes de qualquer tipo de tratamento. “Primeiro se deve questionar sobre os hábitos e rotina da paciente, pois em situações de excesso de atividade física, estresse psicológico ou anorexia os exames podem dar resultados normais. A ultrassonografia também pode trazer informações importantes, como cistos funcionais dos ovários, ovários micropolicísticos, ou até mesmo tumores que produzem hormônios”.
Nos casos mais comuns, como a Síndrome do Ovário Policístico, as alterações hormonais ou a interferência emocional podem ser facilmente tratados, desde que possuam um acompanhamento médico adequado. “Na Síndrome dos Ovários Policísticos, o tratamento depende da intenção de engravidar da paciente. Se ela não pretende engravidar, o tratamento é feito com anticoncepcionais. Caso contrário se faz indução da ovulação. No caso de amenorreia pós-pílula, excesso de atividade física, bem como nas situações fisiológicas, como os períodos de lactação e puberdade, nada se faz” explica. “No entanto, se a causa for um tumor, o tratamento é cirúrgico”.