Região já recebeu baleia exposta em grande carreta
No final da década de 50, Antônio Navarro Teruel, com seus 11 ou 12 anos de idade, participou de uma experiência que marcou sua vida. Uma gigante baleia morta e conservada em formol chegou a Marília, onde morava, sobre uma carreta. A baleia fazia parte de uma espécie de espetáculo onde era cobrada uma taxa para ver o animal de perto.
Antônio acredita que a baleia visitou Marília em 1958. A novidade despertou muita curiosidade entre os moradores. Ele saiu da escola e foi até o local onde estava a baleia exposta. “Os donos eram argentinos. Eu tinha pouco mais de 10 anos e fui chamado junto de outro garoto para trabalhar com o pessoal vendendo foto da baleia. Eu topei, pois além de ver a baleia sem pagar ainda ganhei um dinheiro”, conta.
O garoto conta que naquele dia chegou mais tarde em casa e a mãe já estava preocupada, mas logo entendeu quando contou que tinha conseguido um trabalho com o pessoal da baleia. Por cerca de uma semana, Antônio foi todos os dias ao local e trabalhou na venda das fotografias. “Eram três modelos de foto para as pessoas comprarem. Era uma da baleia com a boca aberta e um homem dentro da boca, outra com ela sendo capturada com os arpões e a que eu acabei escolhendo para mim que mostra a baleia inteira sobre a carreta”, conta.
Antônio lembra que o pagamento era proporcional ao número de fotos que vendia por dia e que foi um bom dinheiro na época. Além do pagamento, ele ganhou uma foto que guarda até hoje e mais três ingressos para seus pais e irmão também verem a baleia de perto.
A experiência despertou em Antônio certo interesse em baleias, ele acredita que a baleia que estava na carreta era uma Jubarti. Sempre que tem oportunidade ele visita museus ou exposições sobre baleias. A história da baleia na carreta também virou “patrimônio” da família. Ele sempre contou a história para os filhos, netos e todos os amigos também conhecem a história. “Sempre penso que a história da baleia que veio para o interior não pode morrer comigo”, brinca.
Antônio morou em Marília até os 20 anos, depois foi ser Polícia do Exército em Brasília na época da ditadura. Após o regime ele morou em São Paulo onde era metalúrgico e se casou com uma santa-cruzense. Após se aposentar resolveu se mudar com a família para uma chácara em Santa Cruz.
História
Antigamente a caça de baleias era permitida e muito comum em todo mundo. Até o fim do século 19, o principal produto era o óleo: a Revolução Industrial na Inglaterra começou com óleo de baleia lubrificando as primeiras máquinas. Depois, o material também foi muito usado como ligante para argamassa de construções e iluminação pública. Havia ainda a utilização muito comum nos séculos 18 e 19 das barbatanas da boca das baleias-francas, com as cerdas confeccionando espartilhos para as grandes damas da sociedade europeia.
No século 20 a carne passou a também ser um elemento importante e o Japão e a Noruega tiveram protagonismo nisso, com as invenções do navio a vapor e do canhão de arpão instalado nestes navios, que permitiram a caça de espécies maiores, de hábito mais oceânico e que se deslocavam com maior velocidade. Assim a caça ficou facilitada em regiões da Antártica e o mercado alimentício se popularizou.
Hoje, basicamente ainda se usa determinados pedaços de carne e gordura para alimentação, embora com demanda cada vez menor. O óleo, principal produto nos tempos áureos da caçada, não tem mais aplicação industrial depois que se começou a usar o óleo sintético feito a partir de derivados do petróleo.
Com o comércio proibido por convenções que regulamentam a venda de fauna e flora ameaçados de extinção e mecanismos que permitem o rastreamento e identificação da origem dos produtos, é praticamente impossível que algum material orgânico de baleia esteja nos pratos ou em objetos ao redor do mundo. A não ser no Japão, Noruega e Islândia, que descumprem esses tratados para fazer negócio entre eles.