Jornal Atual
< Voltar

Região já recebeu baleia exposta em grande carreta

Publicada dia 19/01/2022 às 10:13:47

regiao-ja-recebeu-baleia-exposta-em-grande-carreta


No final da década de 50, Antônio Navarro Teruel, com seus 11 ou 12 anos de idade, participou de uma experiência que marcou sua vida. Uma gigante baleia morta e conservada em formol chegou a Marília, onde morava, sobre uma carreta. A baleia fazia parte de uma espécie de espetáculo onde era cobrada uma taxa para ver o animal de perto.

Antônio acredita que a baleia visitou Marília em 1958. A novidade despertou muita curiosidade entre os moradores. Ele saiu da escola e foi até o local onde estava a baleia exposta. “Os donos eram argentinos. Eu tinha pouco mais de 10 anos e fui chamado junto de outro garoto para trabalhar com o pessoal vendendo foto da baleia. Eu topei, pois além de ver a baleia sem pagar ainda ganhei um dinheiro”, conta.

O garoto conta que naquele dia chegou mais tarde em casa e a mãe já estava preocupada, mas logo entendeu quando contou que tinha conseguido um trabalho com o pessoal da baleia. Por cerca de uma semana, Antônio foi todos os dias ao local e trabalhou na venda das fotografias. “Eram três modelos de foto para as pessoas comprarem. Era uma da baleia com a boca aberta e um homem dentro da boca, outra com ela sendo capturada com os arpões e a que eu acabei escolhendo para mim que mostra a baleia inteira sobre a carreta”, conta.

Antônio lembra que o pagamento era proporcional ao número de fotos que vendia por dia e que foi um bom dinheiro na época. Além do pagamento, ele ganhou uma foto que guarda até hoje e mais três ingressos para seus pais e irmão também verem a baleia de perto.

A experiência despertou em Antônio certo interesse em baleias, ele acredita que a baleia que estava na carreta era uma Jubarti. Sempre que tem oportunidade ele visita museus ou exposições sobre baleias. A história da baleia na carreta também virou “patrimônio” da família. Ele sempre contou a história para os filhos, netos e todos os amigos também conhecem a história. “Sempre penso que a história da baleia que veio para o interior não pode morrer comigo”, brinca.

Antônio morou em Marília até os 20 anos, depois foi ser Polícia do Exército em Brasília na época da ditadura. Após o regime ele morou em São Paulo onde era metalúrgico e se casou com uma santa-cruzense. Após se aposentar resolveu se mudar com a família para uma chácara em Santa Cruz.

História

Antigamente a caça de baleias era permitida e muito comum em todo mundo. Até o fim do século 19, o principal produto era o óleo: a Revolução Industrial na Inglaterra começou com óleo de baleia lubrificando as primeiras máquinas. Depois, o material também foi muito usado como ligante para argamassa de construções e iluminação pública. Havia ainda a utilização muito comum nos séculos 18 e 19 das barbatanas da boca das baleias-francas, com as cerdas confeccionando espartilhos para as grandes damas da sociedade europeia. 

No século 20 a carne passou a também ser um elemento importante e o Japão e a Noruega tiveram protagonismo nisso, com as invenções do navio a vapor e do canhão de arpão instalado nestes navios, que permitiram a caça de espécies maiores, de hábito mais oceânico e que se deslocavam com maior velocidade. Assim a caça ficou facilitada em regiões da Antártica e o mercado alimentício se popularizou.

Hoje, basicamente ainda se usa determinados pedaços de carne e gordura para alimentação, embora com demanda cada vez menor. O óleo, principal produto nos tempos áureos da caçada, não tem mais aplicação industrial depois que se começou a usar o óleo sintético feito a partir de derivados do petróleo. 

Com o comércio proibido por convenções que regulamentam a venda de fauna e flora ameaçados de extinção e mecanismos que permitem o rastreamento e identificação da origem dos produtos, é praticamente impossível que algum material orgânico de baleia esteja nos pratos ou em objetos ao redor do mundo. A não ser no Japão, Noruega e Islândia, que descumprem esses tratados para fazer negócio entre eles.