2022: Sem Carnaval, cidade sambou em meio à polêmicas
Giovana Dal Posso
As primeiras semanas de janeiro começaram conturbadas quando a empresa Ártico abandonou Santa Cruz do Rio Pardo, não aguentando as pressões da classe operária em meio a greves e paralisações de funcionários por conta de atrasos nos pagamentos daqueles que mantém a cidade em pé. Por falar em dinheiro e atrasos, o Museu da cidade que havia recebido quase 400 mil reais para sua reestruturação com prazo de 12 meses para conclusão, chega a mais o final de um ano incompleto – Santa Cruz, um dos municípios mais antigos da região, deveria saber que nem só de praças se vive a cultura de uma cidade.
Em meio a mais óbitos e casos de Covid-19, os blocos carnavalescos santa-cruzenses cancelaram o próprio carnaval em fevereiro, com a ideia de realizar um desfile “fora de época”, que também não aconteceu. Esperamos, em 2023, ouvir o som da cuíca e retomar com uma das festas mais democráticas do país. A solidariedade também marcou o mês, quando empresários da cidade se uniram para ajudar Minas Gerais, que na época foi afetada por grandes níveis de chuvas.
Se em março os paulistas se sentiram um pouco da normalidade voltar após voltarem a andar sem máscaras em espaços públicos, o leste europeu esteve o mais longe do normal possível com o estopim da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que já deixou milhares de mortos, feridos e desabrigados – que continua sem previsão para acabar. O santa-cruzense, que acreditou em muita coisa durante 2022, sonhou que ficaria rico com os “valores a receber” que foram divulgados pelo governo, mas a carruagem virou abóbora quando descobriram que não se passava de centavos.
A Festa do Peão aconteceu, em meio a rumores de que o então presidente Jair Bolsonaro viria para a cidade. No final, quem veio mesmo para Santa Cruz em abril foram as Relíquias dos Três Pastorinhos, diretamente de Fátima, em Portugal, para o agora Santuário de Nossa Senhora de Fátima, que cruzaram o oceano com os fiéis que foram buscá-las em maio a comemorações.
Mas nem só de festas vive a igreja. Em maio, Gustavo Trindade dos Santos, na época pároco da Matriz de São Sebastião, atropelou o ‘Anjinho’ que havia furtado três moletons e uma camisetas da casa paroquial. Divagando dos ensinamentos de Jesus, que perdoou o ladrão da cruz quando ambos eram crucificados lado a lado, o Frei decidir agir pela sua própria justiça, e Ângelo Marcos dos Santos Nogueira morreu pelo valor de uma nota do lobo guará.
Em 2022, não foi apenas a moda que fez uma comeback dos anos 80 – mas a homofobia também. Com o primeiro caso de varíola dos macacos em São Paulo em junho, o estigma com os homossexuais cresceu de forma errônea. Em meio a isso, a cidade do oeste paulista começou a assistir o começo do que seria a briga entre mestre e pupilo, quando Diego Singolani, prefeito de Santa Cruz, exonerou Milton de Lima, secretário da agricultura que havia sido indicado ao cargo para Diego por ninguém menos que seu antecessor, ex-prefeito Otacílio Parras de Assis.
Quanta coisa, não é mesmo? Chegamos ao segundo semestre no ano, e em julho o Rock Rio Pardo retornou aos palcos pela primeira vez após a pandemia de Covid-19. Com a época das eleições batendo na porta, o evento foi marcado por diversas manifestações políticas.
Agosto foi marcado por um respiro de representatividade em meio a terras tão conservadoras quando Luana Spyller dos Santos participou do concurso Miss Comerciária, sendo a primeira candidata trans em Santa Cruz. Querida, ela foi escolhida como Miss Simpatia, e desejava que sua participação abrisse portas para outras mulheres – se outras vão participar, precisamos esperar os próximos anos para ver, mas sua atitude é com certeza uma marca na luta das pessoas diária das pessoas transsexuais da cidade.
Outro ato inédito aconteceu em setembro, quando a abertura do Plantio de soja aconteceu pela primeira vez no estado de São Paulo, em Santa Cruz do Rio Pardo. O evento que prestigiou a comunidade agropecuária da cidade, contou com a presença de diversas autoridades e pessoas conhecidas. Quem apareceu também foi a negacionista Nise Yamaguchi, que depôs na CPI da pandemia em 2021, por participar de uma reunião no Planalto para mudar bula da cloroquina por decreto, para que o medicamento passasse a ser indicado contra a Covid-19, mesmo que já comprovado como ineficaz. Para o bem das próximas safras, torços os dedos que tenham deixado ela bem longe dos sacos de agrotóxico e adubo!
Outubro foi definido pelas Eleições Gerais de 2022, e após 20 anos da sua primeira eleição, o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito novamente como presidente do Brasil, dessa vez para seu terceiro mandato - a vitória em cima do então presidente Jair Bolsonaro, que buscava sua reeleição, veio através da disputa mais acirrada da história. As urnas santa-cruzenses não refletiram o resultado geral, já que no segundo turno Bolsonaro recebeu 73,21% e Lula 27,69%.
Insatisfeitos com o resultado das eleições, bolsonaristas da cidade bloquearam rodovias por alguns dias na cidade, durante o mês de novembro, alguns ainda permaneceram por semanas em frente à Câmara Municipal. Outra eleição também aconteceu em Santa Cruz, quando pela primeira vez uma chapa da ‘oposição’ ganhou as eleições da Associação Comercial e Empresarial do Município. “Avança Santa Cruz” toma posse em janeiro de 2023, e comandará a entidade até 2025.
Inspirados no deputado estadual Ricardo Madalena, que dobrou seus patrimônios nos últimos quatro anos, os vereadores de santa-cruzenses buscam realizar o mesmo feito ao aprovarem um reajuste de mais de 60% nos próprios salários, chegando a sete mil reais. Como todo final de ano tem briga em família, aqui não poderia ser diferente! A disputa pela cadeira de prefeito já começou, mesmo a dois anos da próxima eleição, onde Otacílio e Diego seguem trocando farpas entre entrevistas nos veículos de imprensa.
Em 2022, percebeu-se que o povo quando luta pelos seus direitos, acaba sendo ouvido. Que para a riqueza, não há forma mágica ou pote de ouro no final do arco íris. Que a coragem de uma pessoa, pode servir de incentivo e exemplo para diversas outras e que batina não faz um padre.