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Em júri histórico, frei comove e ganha absolvição

Publicada dia 15/04/2024 às 10:53:37

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Giovana Dal Posso


Após um julgamento que durou quase dez horas no Fórum de Santa Cruz do Rio Pardo, o Frei Gustavo Trindade foi absolvido da acusação do crime de homicídio qualificado. Ele era acusado de matar atropelado Angelo Marcos dos Santos Nogueira, suspeito de furtar três moletons e uma camiseta da casa paroquial da cidade, em maio de 2022. “Anjinho”, como era conhecido, morreu meses depois em decorrência dos ferimentos do atropelamento. 

Roberto Ribeiro de Almeida, um dos advogados de defesa do Frei, conta que assumiu o caso há um ano atrás, escolhendo uma abordagem diferente para a defesa: “Era uma linha de combatividade que não era exatamente o frei Gustavo estava confortável a defender”. Foi orientado que o réu “colocasse o coração pra fora” e que mostrasse que errou.

Para Roberto, o julgamento ocorreu em Santa Cruz, onde o frei era conhecido por todos, influenciou de certa forma o júri. “Influenciou-se no sentido que o conhecimento da verdade, fatos e dos envolvidos facilitou. Não foi uma manobra, muito pelo contrário”, explica.

Os advogados não deixaram Gustavo dar entrevista à imprensa. Quando questionado se Roberto saberia quais os próximos passos do frei, ele respondeu que também gostaria de descobrir. “Tudo estava dependendo desse julgamento. Acreditamos que o Ministério Público não vai recorrer e que irá respeitar a decisão dos jurados”.

O júri, composto por quatro mulheres e três homens, poderia escolher entre condenar Gustavo por dolo eventual, quando o indivíduo não tem a intenção direta de causar a morte da vítima, mas assume o risco de produzir esse resultado ao realizar uma conduta perigosa, ou ser absolvido do crime. O julgamento contou com a presença de diversas testemunhas, entre elas Pedro Lucca, que estava com Gustavo no carro no momento do atropelamento, que relatou sobre o acontecimento em seu depoimento: "Só fiquei traumatizado no meu quarto".

Já o depoimento do próprio frei durou cerca de meia hora, onde ele, em lágrimas, relatou que suas intenções ao perseguir Ângelo eram para parar e repreender o réu, e se mostrou arrependido. “Me arrependo muito, eu sei que eu errei. Devia ter chamado a polícia, não devia ter ido atrás". O réu ainda relatou que não se perdoou pelo acontecido - "Eu busco esse perdão. Estou arrependido do que aconteceu, não tive intenção de tirar a vida dele". Gustavo passou praticamente todo o julgamento de olhos fechados, rezando.

Muitos estudantes de direito também estiveram presentes para acompanhar o julgamento. Gabrielle Alves de Sá, estudante do segundo ano, conta que esse é o primeiro júri que acompanha: “Esse caso do padre eu acompanhei desde o começo”, compartilha. “Eu vim pra acompanhar pra entender como funcionam, coisas que a gente só vê em filme. Vim ver presencialmente para entender como funciona e  para adquirir conhecimento, realmente entender o sistema judiciário”, finaliza.