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Em 2024, mais pontes foram quebradas do que construídas

Publicada dia 17/01/2025 às 19:57:22

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Giovana Dal Posso


Janeiro começou com a formação de alianças políticas, dando um spoiler do que poderia se esperar em 2024 para Santa Cruz do Rio Pardo: um ano extremamente político. Aqui, cabe uma menção honrosa (que não deve ser vista como nem um pouco positiva) para um dos personagens que mais se envolveria em polêmicas, o vereador Juninho Souza. Sua trajetória nessa retrospectiva começa logo cedo, quando um outdoor colocado próximo a onde acontecia a Festa do Peão, rendeu uma multa de propaganda antecipada ao edil. Ela chegou a ser revogada alguns meses depois, mas com certeza rendeu alguns cabelos brancos na cabeça de Juninho e seu advogado.

 

Já em fevereiro, a cidade perdeu um de seus nomes mais importantes no jornalismo local, Sérgio Fleury Moraes. Fundador do Jornal Debate, Fleury era conhecido por sua postura crítica e por defender a liberdade de imprensa. Sua morte, aos 64 anos, vítima de um câncer, deixou uma lacuna no cenário comunicacional da região.

 

É impossível não falar de março sem citar uma década de Atual, que consolidou seu papel na cobertura de temas relevantes para Santa Cruz do Rio Pardo e cidades vizinhas. Porém, nem tudo foram flores nesse mês. Uma empresa responsável pelo transporte universitário, foi alvo de críticas devido a falhas operacionais no serviço, com reclamações sobre atrasos frequentes e condições precárias dos ônibus. Outra área em crise na cidade foi, novamente, a coleta de lixo na cidade, o que resultou em acúmulo de lixo em toda cidade durante semanas. Durante esse tempo, Santa Cruz virou uma cidade digna do Projac, da Globo. Quer saber qual era o cenário? O lixão da mãe Lucinda. 

 

Dois anos após a morte de Anjinho, o caso finalmente ganhou um desfecho. Depois de todo o alvoroço e revolta (de ambos os lados), o padre acabou sendo absolvido em meio a um júri popular.  Com um líder religioso no centro de um crime de morte, a trama foi finalizada com um julgamento que pouco explicou. Aparentemente, no 5º mandamento “Não matarás”, não se inclui os “anjinhos”. 

 

As pontes  também foram assuntos de destaque durante o ano.. A polêmica do empréstimo de 30 milhões de reais para a construção foi, no mínimo, uma novela. Com o objetivo de aliviar o trânsito, o projeto foi aprovado após um empate na Câmara, decidido pelo voto de minerva pelo presidente do legislativo. Com a população dividida, o que para alguns era desenvolvimento para cidade, para outros era promessa. No final de tudo a sensação é que, com tantos questionamentos, as pontes poderiam ser mais simbólicas do que funcionais.

 

A convenção de coligação de Diego Singolani (PSD), "Pra Frente, Santa Cruz!", tentou fazer história ao realizar sua convenção partidária com o PSOL na coligação, o que, para muitos eleitores, foi um erro estratégico e tanto. Santa Cruz, sendo uma cidade majoritariamente de direita, não reagiu bem à ideia de ver seu candidato aliado a um partido tão à esquerda. O desgaste foi imediato, e a aliança virou um pesadelo para Diego. Poucos dias depois, uma ordem do diretório do PSOL proibiu a coligação, e tudo foi desfeito. Para completar, Diego, em sua tentativa de contornar a situação, foi à rádio xingar os "esquerdistas". O resultado? Saiu queimado com praticamente todos os lados: nem os aliados da direita, nem os da esquerda ficaram muito satisfeitos com a situação. 

 

Ao som das 12 badaladas do relógio, no dia 16 de agosto, a campanha eleitoral de 2024 em Santa Cruz do Rio Pardo finalmente teve seu pontapé inicial. Como se fosse uma grande cerimônia de abertura, a cidade entrava oficialmente no clima das eleições, com todo mundo já ansioso para ver como os candidatos iriam se posicionar e tentar conquistar os votos dos eleitores. 

O período eleitoral, porém, foi bem diferente dos anteriores. Em vez das tradicionais ações nas ruas, os candidatos focaram suas energias nas redes sociais. Tudo parecia acontecer no mundo digital. O curioso é que os próprios eleitores estavam tão pouco empolgados com a campanha presencial quanto os candidatos: nos comícios de Otacílio (PL) tinham uma presença de público bem mais tímida do que o esperado, quase como se todos tivessem preferido ficar no conforto de casa, acompanhando tudo de longe.

Uma grande decepção deste ano foi a total falta de debates eleitorais, tanto em Santa Cruz quanto nas cidades vizinhas. Pela primeira vez em anos, os eleitores não tiveram a chance de ver os candidatos frente a frente, trocando ideias e, claro, se alfinetando ao vivo. Ao invés disso, o debate ficou restrito às postagens e vídeos nas redes sociais, sem aquele calor humano das tradicionais reuniões públicas. Pelo menos, não houve nenhuma cadeirada… 

Com 125 passos caminhados, você mal sai do quarteirão, é uma distância quase insignificante. Com 125 reais, mal dá para montar uma ceia de Natal decente, quem dirá comprar aquele presente esperado. Agora, nas eleições, a história é diferente. Em Santa Cruz, foram 125 votos que fizeram Diego perder a reeleição e Otacílio conquistar seu terceiro mandato. Uma diferença que mal cabe na extensão de uma rua, mas que fez a cidade girar. Uma margem tão apertada que, se fosse qualquer outra coisa, sequer faria você levantar do sofá. Mas foi o suficiente para determinar quem iria governar.

 

Juninho Souza, que já tinha se envolvido em polêmicas, apareceu novamente na retrospectiva de 2024, mas dessa vez o motivo foi ainda mais controvertido: falas homofóbicas durante uma entrevista da rádio (crime por sinal, ok?). Inclusive, ele é o mais cotado para assumir a presidência da Câmara no próximo ano - porque, claro, quem não quer alguém que mistura ignorância com ambição política para liderar?

 

O ano até está acabando, mas as polêmicas não. As oitivas da CPI do Pro-Bem foram um show de entretenimento a parte onde, como sempre, a culpa não parecia ser de ninguém, mas ao mesmo tempo, de todo mundo. Com seu desfecho oficial apenas em 2025, a expectativa é de que o próximo ano traga alguma definição, mas a dúvida persiste: quem vai finalmente assumir a responsabilidade?

 

A prisão de Sueli Feitosa, ex-tesoureira da prefeitura, também trouxe um desfecho a essa história de anos. Ela foi novamente presa para cumprir a sentença, junto com alguns familiares envolvidos no esquema, e teve seus bens confiscados, incluindo imóveis e carros de luxo. A pergunta que fica é: Sueli era realmente a grande mente criminosa por trás de tudo ou apenas o bode expiatório de um esquema maior?

Em dezembro, a transição do governo Diego para o governo Otacílio foi marcada por uma série de "tretas" que só aumentaram o clima de tensão política em Santa Cruz. Tudo começou com uma reunião na Secretaria de Cultura, que mais parecia um palco de teatro. Quando a futura secretária, Elaine, foi questionar o trabalho da atual titular, Renata, o clima esquentou e, no auge da tensão, ela pediu para trazer seu marido, o pastor Jair, para a conversa. Mas claro, o pedido foi negado, até porque alhos não são bugalhos.

A partir daí, as acusações voaram. Diego, sempre com sua paciência de santo, acusou o pastor de homofobia e crime contra a honra. O pastor, por sua vez, desafiou Diego a registrar o boletim de ocorrência, afinal, por que não? Já Otacílio, que parece estar cansado do seu governo antes mesmo de começar a governar, decidiu cancelar as reuniões de transição e acusar o governo de vitimização. Resumo da ópera: ninguém se entendeu, todo mundo gritou e o desfecho? Ah, esse ficou para 2025. 

Em 2024, Santa Cruz do Rio Pardo viveu um ano de intensas divisões, onde o desgaste político e a polarização dominaram o cenário local. Promessas de unidade e progresso, como as pontes físicas e simbólicas, se transformaram em símbolos de discórdia. No fim das contas, a sensação que ficou é que, enquanto as esperanças de união eram abafadas, mais pontes foram quebradas do que construídas, deixando a cidade mais distante do que nunca.