Jornal Atual
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Dono de sebo ganha a vida como colecionador de memórias

Publicada dia 18/04/2017 às 09:45:11

Mariana Pires

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Aqueles que nasceram depois de 1990, podem nunca ter tido contato com um disco de vinil na vida. Assim como as fitas cassetes, o vinil preenche grande parte do imaginário dos saudosistas da época em que ouvir música não era tão simples quanto é hoje.

Djalma de Souza Marques, de 58 anos, é um desses apaixonados pelo vinil. Dono de um sebo em Santa Cruz do Rio Pardo há 17 anos, ele possui uma coleção recheada de materiais valiosos. “Eu tenho alguns discos com mais de trinta anos guardados. Esses eu não vendo por preço nenhum”, afirma. Entre esses tesouros particulares, se encontram discos raros datando a década de 70, como alguns do Roberto Carlos, Jorge Ben Jor e até mesmo da dupla caipira santa-cruzense, Zilo e Zalo.

Ele conta que, antes de montar o sebo, vendia discos de vinil na Avenida Tiradentes, em frente aos bancos. Um dia, uma mulher de São Pedro do Turvo o procurou, na intenção de doar alguns discos de vinil. Seu Djalma aceitou e logo se prontificou para buscar o material na casa dela. “Quando cheguei lá, me deparei com pelo menos uns 400 livros. Ela explicou que como estava de mudança, havia oferecido os livros para a biblioteca municipal, mas como ninguém apareceu para buscá-los, acabou me perguntando se eu não gostaria de ficar com eles”, explica. E tão logo quanto ganhou os livros, seu Djalma os vendeu. “A maioria vendi em questão de dias. Muitas pessoas depois vinham me perguntar quando eu traria mais livros”.

Apesar de ter começado com os discos, ele pegou o gosto pelos livros depois dessa experiência. Foram tantas as doações que Djalma recebeu, que seu tablado na rua começou a ficar pequeno. Foi então que ele decidiu alugar uma loja na Vila Saul, onde permaneceu durante quatro anos e meio. Atualmente, ele gerencia o sebo literário na Rua Carlos Gomes, próximo a praça Otaviano Botelho Souza.

No entanto, contrariando as expectativas dos mais progressistas, a maior parte do lucro do sebo provém da música e dos discos de vinil. Seu Djalma afirma que, surpreendentemente, atende um bom público consumidor de discos, sendo muitos ainda bem jovens, que sequer eram nascidos durante a era de ouro do vinil.

Ele também complementa a renda convertendo os discos de vinil em CDs e arquivos de mp3. Graças a isso, muitas pessoas o procuram na esperança de ter seus antigos discos tocando nos celulares e mp3 players. “Durante a conversão, eu tiro até mesmo os ruídos que os vinis antigos faziam entre as trocas de faixa. Mas, os mais nostálgicos pedem para mantê-las”, ri.