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Ozonioterapia não é reconhecida como tratamento médico

Publicada dia 12/08/2020 às 11:17:22

Thaís Balielo

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Diego Singolani


Nesta semana, um dos assuntos mais comentados no país foi a fala do prefeito Volnei Morastoni (MDB), de Itajaí, em Santa Catarina, que sugeriu a aplicação de ozônio no ânus dos pacientes diagnosticados com o novo coronavírus. O político, que é médico, já havia causado polêmica ao defender até mesmo tratamentos homeopáticos, à base de cânfora, contra a Covid-19. Na quarta-feira, 5, o Ministério Público recomendou ao chefe do Executivo que não ofereça o ozônio via retal à população, pois não há nenhuma comprovação científica sobre sua eficácia. De acordo com o médico Valdinei Garcia, especialista em endocrinologia e metabologia, a chamada ozonioterapia sequer é reconhecida como tratamento médico e o principal estudo publicado a respeito de sua utilização contra o coronavírus é de péssima qualidade. 

Em 2018, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou resolução autorizando a ozonioterapia de forma experimental, com protocolos aprovados por Comitê de Ética em Pesquisa. “O ozônio via retal não é novo. Essa história já existe há algum tempo. É aplicado pelo menos uns 100 ml. Isso melhoraria o perfil respiratório dos pacientes e ajudaria, inclusive, com a inflamação de pacientes que têm coronavírus”, explica Valdinei. “O problema é que o estudo utilizado no mundo todo como base para justificar a ozonioterapia, produzido em um hospital de Madrid, na Espanha, é péssimo, de má qualidade e foi publicado numa revista de baixo impacto. Os pacientes pesquisados também estavam tomando anticoagulantes, azitromicina, cloroquina, enfim, não dá para provar que o ozônio foi útil. Além da falta de resultados, não há sequer plausibilidade, ou seja, pelo menos um mecanismo teórico que mostre como o ozônio poderia ajudar o paciente de coronavírus”, afirma o médico. 

Segundo Valdinei Garcia, o uso do ozônio para purificar a água ou higienizar alimentos têm efeitos positivos comprovados cientificamente. Porém, seu implemento como terapia não pode ser considerado como tratamento médico - muito menos contra o coronavírus. “Niguém tem nada contra esses tratamentos alternativos. A acupuntura, por exemplo, é um tratamento médico reconhecido. Mas no caso do ozônio, ainda não há um registro e nem aceitação pelas sociedades médicas brasileiras e internacionais. Existe todo um método científico necessário para isso, com a produção de um dossiê, que é apresentando a uma câmara médica formada por notáveis da área, que vão avaliar os resultados de estudos comprovando o impacto positivo na vida das pessoas. Falta prova científica para a ozonioterapia”, diz Valdinei.