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Inclusão é “palavra chave” para autismo

Publicada dia 11/03/2019 às 13:52:41

Thaís Balielo

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O neuropediatra Paulo Liberalesso esteve em Santa Cruz para o Primeiro Simpósio InTea “Autismo em Pauta”. Especialista na área, ele falou com o Atual sobre o autismo e a importância da inclusão do autista na sociedade.

Atual - Quais os tipos e graus do autismo?

Paulo – Quando falamos de gravidade do transtorno do espectro autista, classificamos esta condição neurológica em três níveis. O autismo nível 1 seria considerado o grau mais leve do transtorno, em que estas crianças precisariam de menos apoio de outras pessoas. Uma parte significativa das crianças classificadas como nível 1 podem desenvolver a linguagem falada de forma bastante satisfatória.

O autismo nível 2 seria o grau considerado moderado, em que as crianças já necessitam de um apoio mais significativo para que possam manter relações sociais com pares de mesma idade e, geralmente, são crianças que apresentam um comprometimento considerável na comunicação verbal e não verbal.

O autismo nível 3 seria a forma mais grave deste transtorno neurológico, e as crianças classificadas neste nível necessitam de intenso apoio para atividades mesmo mais elementares, havendo severo comprometimento da comunicação verbal e não verbal e de sua capacidade de interação social.

A – Qual a importância do diagnóstico precoce?

P – O diagnóstico precoce possibilita um início precoce de tratamento e isso faz toda a diferença na evolução destas crianças. Diagnósticos tardios, realizados após 5 ou até 6 anos de idade, diminuem muito a chance da criança receber um tratamento mais efetivo e ter regressão do muitos sinais e sintomas do autismo.

A – Muitos pais demoram a perceber?

P – Sim, muitos pais realmente demoram a perceber os primeiros sinais e sintomas do autismo. E isso ocorre por dois motivos principais: primeiro, porque diversos sintomas do autismo podem ser bastante inespecíficos nas crianças pequenas e segundo, pela falta de informação a respeito desta condição neurológica à maior parte da população.

A – Qual a importância da inclusão?

P – O tema "inclusão" de crianças e pessoas em geral com qualquer tipo de necessidade especial, talvez seja uma das principais discussões na sociedade contemporânea. Para as crianças com autismo não basta falarmos somente da inclusão no ambiente escolar, precisamos de muito mais que isso! Nós precisamos que estas crianças, juntamente com suas famílias, sejam verdadeiramente incluídas na sociedade de forma ampla e irrestrita. Eu costumo dizer que, muito mais importante do que as leis brasileiras a respeito da inclusão, é a atitude inclusiva que cada um de nós precisa ter e praticar todos os dias.

A – Segundo relatos de professores, o número de autistas tem aumentado em sala de aula. Isso se deve por aumento real do número de autistas ou está aumentando a inclusão e o diagnóstico precoce?

P – As duas coisas estão ocorrendo. O número de novos casos de autismo está aumentando, hoje em dia nós somos capazes de fazer diagnósticos em crianças cada vez menores. Eu acho excelente que os professores estejam vendo cada vez mais autistas dentro das salas de aula, por que este é exatamente o lugar onde eles devem estar. O lugar de todas as crianças é dentro da sala de aula.

A – Quais profissionais devem acompanhar uma criança autista?

P – As crianças com autismo são extremamente diferentes entre si e, por esse motivo, geralmente necessitam de equipes profissionais também muito diferentes. Mas de modo geral, podemos pensar que praticamente todos os autistas necessitarão de um psicólogo especialista em ABA (Análise do Comportamento Aplicada), de um fonoaudiólogo comportamental e de um terapeuta ocupacional para treinamento de atividades de vida diária.

A – O que os pais devem fazer quando percebem algo diferente?

P – Deve comunicar ao pediatra. O pediatra é o médico que está mais próximo das crianças e das famílias. Assim, caso o pediatra julgue necessário, ele encaminhará a criança para uma avaliação especializada com um neurologista infantil ou com um psiquiatra infantil.