Mulheres ainda fingem orgasmo durante sexo

A psicóloga Laís Lacerda falou com o Atual sobre o orgasmo feminino, sobre fingir prazer e sobre como chegar lá. Ela é formada em Psicanálise Clínica, pós-graduada em Sexualidade Humana pela Faculdade de Medicina da USP, e realiza atendimento exclusivamente para mulheres na modalidade online ou presencial, em São Paulo.
Atual – O orgasmo feminino ainda é tabu hoje em dia?
Laís – Precisamos olhar para um histórico desfavorável para entender o tabu envolvido no orgasmo feminino. Nossa sexualidade era determinada pela igreja (século XVIII e início do século XIX). A relação sexual deveria ser breve, o atual ejaculador precoce era sinônimo de virilidade e potência, as preliminares eram proibidas, existia apenas uma posição sexual admitida a posição de missionário (atualmente conhecida como papai e mamãe), enfim, o sexo deveria ser isento de erotismo e sua finalidade se estreitava a reprodução.
Qualquer prática íntima sem propósito reprodutivo era condenada, como a masturbação, o sexo anal e relações não heterossexuais. Com o advento dos métodos anticoncepcionais, a partir dos anos 50, a reprodução perde o protagonismo e o prazer passa a ser o objetivo central do encontro sexual. Contudo, séculos de repressão sexual não se dissolvem instantaneamente, a autonomia sexual é um processo e como tal, precisa de etapas a serem ultrapassadas.
Atual – Existem muitas mulheres que nunca sentiram? Por que elas fingem orgasmo?
Laís – Estima-se que no Brasil 26,2% das mulheres sofrem de anorgasmia (incapacidade de chegar ao orgasmo). Pesquisas apontam para o tédio, como principal motivo pelo qual elas fingem orgasmo, ou seja, o sexo está ruim, não há expectativas de melhorar, então o prazer é simulado para que a transa acabe logo. Seguido pelo medo de desagradar o parceiro, neste contexto, fingir significa evitar um possível embate com o parceiro. Por fim, a insegurança, que é o desconhecimento do próprio prazer.
Atual – Qual o maior problema de fingir o prazer?
Laís – A medida que o orgasmo é simulado, o potencial para senti-lo diminui, pois, o parceiro continuará com os estímulos errados e o autoconhecimento é deixado de lado.
Atual – Como atingir o prazer e como falar com o parceiro sobre o que gosta ou não?
Laís – Primeiramente, para dialogar sobre o que agrada ou não agrada na cama é necessário autoconhecimento. Antigamente, nenhuma mulher deveria saber nada sobre sexo, o ideal de feminino era o recato. Felizmente, a autonomia sexual passou a ser reconhecida como fundamental para a saúde sexual que é muito mais que prazer, engloba saúde mental e física.
Atual – O que é autonomia sexual?
Laís – Envolve a habilidade de tomar decisões sobre a própria sexualidade num contexto de ética pessoal, alinhado aos seus valores, desenvolvendo a capacidade de expor seus desejos, incentiva a pratica da masturbação como forma de auto exploração erótica e recorre a inteligência sexual (abrange o conhecimento como forma de dissipar mitos e preconceitos sobre a sexualidade). A masturbação é um bom caminho. Pesquisas apontam o auto toque como principal meio para “chegar lá”, seguido pelo sexo oral e finalmente o sexo com penetração vaginal.