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Entre o mundo real e a fantasia: como os quadrinhos e os cosplays conseguem unir as duas realidades

Publicada dia 24/03/2017 às 09:38:41

Arquivo Pessoal

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Quem nunca desejou ser alguém diferente por um dia? Ou viver no universo de fantasia dos seus personagens favoritos? Enquanto para algumas pessoas isso pode soar impossível, para outras essa ponte entre o que é real e fictício pode ser mais tênue do que se imagina.

Letícia Mendonça, 23 anos, sabe muito bem como é transitar entre os dois mundos. Sempre gostou muito de festas à fantasia e animes, e graças ao cosplay conseguiu unir as duas coisas. “Comecei a fazer porque desde pequena curtia os animes, mas foi só aos 13 anos que descobri sobre os cosplays. Tanto que fiz meu primeiro cosplay aos 14, mesma época em que fui ao meu primeiro evento, o "Anime Fantasy" em São Paulo”, lembra. Entre seus cosplays preferidos estão os relacionados ao anime Naruto e a saga Harry Potter. “Geralmente são os personagens que eu mais gostei, ou aqueles que dão para acompanhar em dupla. Já fiz cosplay do Uchiha Itachi, da Hermione Granger e recentemente da Haruno Sakura”.

Letícia acredita já ter participado de pelo menos uns 20 eventos relacionados à cosplays, tanto no interior quanto na capital, entre eles o Anime Fantasy, Anime Friends, Anime Fever, Animerp e a Show con. “O ambiente é muito bom, gosto de tirar fotos, gosto das comidas, de ver as pessoas que moram longe, encontrar personagens do mesmo anime ou filme” conta.

Para Witória Biel, 21, a sensação de participar desses eventos é quase inexplicável. “Foi maravilhoso, as pessoas chegavam aos montes pra tirar fotos. Mesmo na fila já tinha gente ao redor, até pra comer foi difícil. Foi uma sensação muito boa saber que as pessoas estavam realmente gostando do que eu estava fazendo”, relembra.

Witória conta que começou a fazer cosplay praticamente do nada, apesar de sempre ter admirado a dedicação que muitos cosplayers investem na atividade. “Em 2014 comecei a montar o meu primeiro cosplay, da personagem Lucy, do mangá ‘Elfen Lied’, mas acabei não fazendo. Em 2015, meio as pressas, consegui fazer a Athena, do anime ‘Saint Seiya’ (Cavaleiros do Zodíaco). Desde que eu comecei a ver animes sinto vontade de fazer cosplays”. Ela já foi ao Anime Friends quatro edições seguidas, e esse ano pretende ir novamente. “Mesmo com alto custo, no final sempre compensa pelos os elogios que você recebe. Fora a sensação de parecer com uma personagem que você gosta muito e se identifica”, ressalta. 

Letícia Fernandes Sanches, 20, apesar de nova no universo cosplay e já tem no currículo a passagem por eventos de grande porte, como a Comic Con Experience de São Paulo, a maior feira voltada para cultura pop e nerd da América Latina, e até mesmo eventos menores, como a Cosplay Walk, o Up!ABC e a feira anual de Santo André. “Mesmo com a diferença de tamanho, todas as feiras foram legais e tem sempre a mesma energia. A parte bacana é que as pessoas te reconhecem e interagirem contigo como se você fosse mesmo o personagem” ri. Para ela, o maior atrativo nesse meio é a alegria presente em todos os eventos. “A admiração que as pessoas possuem com o personagem que você representa é uma coisa mágica. Eu nunca vou deixar esse ambiente, por menos tempo e dinheiro que eu tenha para continuar”, enfatiza.

Para elas, um dos únicos pontos baixos é a forma com que as pessoas que estão de fora desse universo encaram a prática. “A gente sempre sofre, sempre tem alguém olhando torto, ainda mais em cidade pequena. Mas graças a Deus eu não ligava muito para os outros e continuava a fazer”, conta Letícia Mendonça. Witória concorda que as críticas sejam ruins, mas não acredita que seja uma forma de preconceito. “Muita gente considera o cosplay “coisa de criança”. Eu acho que o que a solução para lidar com isso é ignorar os comentários maldosos, afinal todo trabalho acaba gerando reações negativas. Não devemos levar isso em conta se estamos fazendo o que gostamos”. Letícia Fernandes, no entanto, conta que já viu até uma amiga ser impedida de entrar em um vagão de metrô por estar caracterizada. “O pessoal teme o que não entende”, completa.

Mergulhando nos quadrinhos

Antes dos cosplays, existem os mangás, animes, HQs e filmes que inspiram a representação de todos esses personagens. De uns anos para cá, o mercado de quadrinhos tem se fortalecido muito no Brasil graças ao surgimento de novos autores e ao crescimento dos consumidores desse tipo de entretenimento.  E entre esses consumidores, está Felipe Cruz, 22.

Ele compra quadrinhos, periodicamente, há pelo menos cinco anos, mas o hábito de leitura veio bem antes. “Quadrinhos como Turma da Mônica, Disney, e quadrinhos da Revista Recreio me incentivaram a posteriormente consumir HQs, mangás e até livros”, conta. Felipe explica que suas leituras favoritas variam muito dependendo do dia, mas sempre gosta de variar entre mangás e quadrinhos de selos como a Image e a Vertigo, que tratam de assuntos mais pesados. “Se eu estou com a cabeça muito cheia e quero algo para relaxar, acabo lendo uma HQ de herói, com bastante ação e pouca fala. Mas, meus quadrinhos preferidos mesmo são Sandman, Watchmen, Preacher, Transmetropolitan, ou seja, tudo relacionado a esse universo mais denso e fechado”. Com os mangás, essa preferência continua. “Gosto muito de ler seinen, que é uma coisa mais pesada e cutuca a ferida, como Berserk, Vagabond e Gantz”.

 Já o estudante de design, Luis Sato, 21, gosta mais de quadrinhos de heróis. Seu preferido é Guardiões da Galáxia. “Foi quando saiu o filme deles que eu me interessei em comprar a HQ”, conta. Luis começou a colecionar quadrinhos por acaso, em 2013. Ele explica que o que despertou essa vontade de comprar HQs nele foram as capas. “Achei a capa super colorida e peguei para ler por curiosidade. Coincidentemente era a primeira edição, então decidi comprar e vender depois, caso não gostasse. Mas no final acabei gostando”.  O que motivou ele a continuar consumindo foram as adaptações cinematográficas dessas histórias que estouraram nos últimos anos. “A hora que vi já tinha virado uma bola de neve, e eu não conseguia mais parar de comprar”, ri.

Tanto Luís quanto Felipe, contam que encontram dificuldade em manter o hobbie em Santa Cruz. “Pra quem é do interior, sempre foi um pouco difícil completar coleção. Lógico que hoje melhorou bastante, mas ainda sim a distribuição acaba sendo setorizada, e não recebemos todo o material que sai. Ou então começam a lançar uma coleção e de repente param de distribuir”, Felipe se queixa.

Nenhum deles, no entanto, se considera colecionador de quadrinhos. “Acho que falta muito ainda para que eu me declare como colecionador”, Luís observa. Felipe ainda ressalta que por não catalogar seus materiais, não possui o número exato da coleção, então não se vê como um colecionador. “Mas com o tempo acabamos acumulando muita coisa”, ri.