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Superexposição às telas pode favorecer o estrabismo em crianças

Publicada dia 05/11/2020 às 11:31:50

Arquivo pessoal

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Diego Singolani


Com a chegada da Covid-19 no Brasil e a necessidade do isolamento social, as atividades ficaram limitadas e o uso de computadores, tablets e celulares aumentou bastante entre adultos e crianças. Especialistas têm alertado para os riscos da superexposição às telas, sobretudo na infância, que é um período crucial para o desenvolvimento motor e cognitivo e é significativamente influenciada pelo ambiente. Há estudos que demonstram, inclusive, a relação deste comportamento com a incidência do estrabismo, um distúrbio que faz os olhos apontarem para direções diferentes. O Atual conversou com o médico oftalmologista Alexandre Marsola sobre o tema. Confira os principais trechos da entrevista:

Atual - O uso excessivo de tablets e celulares pela criança pode levar ao desenvolvimento de problemas oftalmológicos - em especial, o estrabismo?

Alexandre Marsola - O uso excessivo destes aparelhos pode predispor o olho seco. A luz azul emitida por eles, por tempo prolongado, pode causar um dano a nossa retina. Em relação ao estrabismo, existem alguns estudos que parecem evidenciar, porém, nada ainda comprovado.

Atual - Há uma lenda - se assim podemos definir - de que toda a criança nascer estrábica e que o desvio desaparece gradativamente com o crescimento. Isso tem algum fundamento?

Alexandre Marsola - Quase toda criança nasce com grau de hipermetropia por volta de 3,00. Isso é considerado fisiológico. Com o passar dos anos, nosso olho vai sofrendo um aumento de tamanho, e esse grau consequentemente diminui. Como nosso olho tem uma força de contração da musculatura ciliar, ocorre um processo de acomodação e nossa visão fica melhor. Se esse grau é muito alto, seja em um ou em ambos os olhos, não conseguimos acomodar todo grau e com isso temos o estrabismo de um ou ambos os olhos. Outro fator é a parte muscular dos nossos olhos estar desequilibrada, fazendo que um dos lados tenha mais força que o outro, ocorrendo aí outro tipo de estrabismo.

Atual - Como é o tratamento para o estrabismo?

Alexandre Marsola - Primeiro devemos diagnosticar o tipo de estrabismo para poder atuar no tratamento. Basicamente, os tratamentos vão do uso de óculos para correção do grau, tampão oclusor e até mesmo cirurgias corretivas.

Atual - O que os pais podem fazer para que o desenvolvimento da capacidade visual da criança seja pleno, de maneira preventiva?

Alexandre Marsola - Ter uma rotina oftalmológica independentemente da criança se queixar. O ideal é que comece por volta dos quatro anos de idade, mesmo sem sintoma nenhum.

Atual - É raro a criança ter consciência de que está enxergando mal. Às vezes, mesmo cega de um olho, acha que tem visão normal, porque nunca enxergou de outro jeito. Quais os sinais que os pais devem estar atentos que podem indicar algum problema de visão?

Alexandre Marsola - Sempre costumo dizer que não temos como comparar nossa visão, pois talvez a pessoa ache que todos enxerguem da mesma forma que ela. Por isso se faz importante os pais se atentarem a quedas constantes, proximidade dos objetos, dificuldade de interagir com os brinquedos mais longe, queixas das professoras, dores de cabeças constantes, lacrimejamento excessivo. Mesmo não tendo queixas, importante seria uma rotina com início por volta dos quatro anos de idade e, após, o ideal seria anualmente.