Lidar com a birra dos filhos é desafio para pais

Thaís Balielo

Quem nunca viu ou teve que lidar com uma criança esperneando no mercado porque quer chocolate ou em uma loja de brinquedos? Lidar com essas situações é um desafio para os pais. A famosa birra é um comportamento comum em uma fase do desenvolvimento das crianças, principalmente quando são muito pequenas e não conseguem argumentar. A psicóloga Geovanna de Lima Maitan, especializada em Análise do Comportamento Aplicada ao Transtorno do Espectro Autista, falou com o Atual sobre o assunto.

Atual – Por que a criança faz birra?

Geovanna – A “birra” é um comportamento aprendido que pode ser entendido como um conjunto de comportamentos disruptivos ou disfuncionais. Isso quer dizer que são comportamentos inadequados frente as mais diversas situações, como contrariedade, frustração, dor etc. Geralmente ela acontece mediante a situações em que a criança não consegue se comunicar, expressar, quando quer fugir de alguma demanda, quando deseja chamar a atenção ou mediante a frustrações. Para analisar o comportamento de birra, é preciso compreender a função desse comportamento, ou melhor, qual o objetivo desse comportamento. Vale ressaltar, que a função é variável a cada contexto. Mesmo que a criança se comporte de mesma forma, como por exemplo, chorando, a função desse comportamento de chorar pode ser diferente a depender do que a criança está tentando expressar. 

Atual – Qual a idade que começa a birra?

Geovanna – A birra é um comportamento aprendido. As crianças não nascem sabendo fazer birra, mas aprendem de acordo com as consequências que produzem. Há crianças que começam com birras antes mesmo dos 6 meses, podendo chegar até a crises de perda de fôlego ou indução voluntária do vômito.

Atual – Como lidar?

Geovanna – Para manejar determinado comportamento, o primeiro passo é entender qual a função dele. Portanto, antes de qualquer coisa precisamos entender o que essa criança está tentando nos dizer com a birra. Lembrando que cada criança pode reagir de uma maneira, a depender dos estímulos, pessoas e ambiente que está inserida no momento da birra. Ou seja, não existe uma receita de bolo para manejar a birra.

Se for uma birra para chamar a atenção, por exemplo, podemos ignorar a criança quando está fazendo a birra para obter atenção e dar a atenção desejada em momentos que a criança se comporta de maneira mais adequada. Desta forma, ela entende que existem outras formas de obter a atenção, e que não terá a consequência desejada através da birra.

Se a criança faz birra para fazer a lição de casa e os pais a deixam fazer depois, ou a criança simplesmente se livra das lições de casa, a probabilidade de ela fazer birra novamente é muito grande. Nesse caso, uma alternativa que pode ser utilizada é um quadro de rotinas, onde esteja tudo antecipado para a criança. Reforçadores ajudam também, ou seja, se ela fizer a lição poderá ter acesso a 20 minutos na televisão (ou qualquer atividade do interesse da criança).

Atual – Apenas ignorar é a solução?

Geovanna – De forma alguma, ignorar não é a única solução! Para que a criança não emita comportamentos de birra, ela deve ter como hábito a expressão de comportamentos mais adequados para conseguir o que deseja. Assim, sempre que um comportamento for ignorado, precisamos ensinar um comportamento adequado que o substitua. Não adianta repreender ou ignorar sem ensinar a maneira correta de se portar.