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Órfãos da Covid já são mais de 45 mil no País

Publicada dia 12/05/2021 às 11:17:56

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São pelo menos 45 mil crianças e adolescentes que, no cálculo do Ipea, perderam os pais na pandemia, muitas delas vivendo em extrema dificuldade e sem contar com nenhuma ajuda do estado. Muitas famílias se tornaram monoparentais por conta desta doença. Em Santa Cruz do Rio Pardo, recentemente, ocorreram casos de pessoas jovens que deixaram filhos pequenos apenas com a mãe ou apenas com o pai.

Segundo dados do painel de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), 433 mulheres grávidas ou no puerpério morreram de Covid-19 de 1º de janeiro a 14 de abril em 2021, enquanto no ano de 2020 foram 546 mortes. No total, desde o início da pandemia, foram 979 mortes de grávidas e puérperas.

Para o advogado e membro do Instituto Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Ariel Alves, crianças e adolescentes órfãos em razão da pandemia são um novo problema social, não só no Brasil, mas no mundo todo, que exige dos governos uma solução adequada.

Alice Alvina Duarte de Bittencourt trabalha há 25 anos com crianças afastadas dos cuidados parentais, seja por morte ou decisão judicial. Ela já trabalhou com apadrinhamento afetivo, famílias acolhedoras, trabalhou na Unicef e atualmente está no Neca (Associação de Pesquisadores da Área da Criança e do Adolescente) como formadora. Em entrevista ao Atual, Alice afirma que esse grande número de órfãos gerará um impacto social.

“É um número muito grande de crianças e adolescentes que perderam um dos pais ou os dois. Eles devem estar nas suas famílias extensas como avós, ou tios, se tiverem sorte. Outros estão sozinhos e irão para o serviço de acolhimento, ou famílias acolhedoras. Se tiverem até 6 anos poderão ser adotadas, ou ficarão em abrigos até seus 18 anos. Tudo isso irá impactar a próxima geração”, afirma.

Alice pondera ainda que o dano será ainda maior quando essas crianças descobrirem como os pais morreram. “O trauma será maior quando entenderem que a morte poderia ter sido evitada. Quando souberem que os pais morreram por conta de um descaso do governo. Um governo que não buscou vacinas a tempo e optou por testar uma tese de imunização de rebanho ignorando o número de mortes no processo. É uma tragédia humanitária. Iremos tratar disso por muitos e muitos anos. Como se fosse os efeitos de uma guerra mesmo”, lamenta.