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Há dez anos, ilha de entulho estrangula trecho do rio Pardo

Publicada dia 21/10/2020 às 12:25:06

ONG Rio Pardo Vivo

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Diego Singolani


O rio Pardo, um dos últimos não poluídos do Estado de São Paulo, está sendo estrangulado por toneladas de entulho. Em um trecho dentro de Santa Cruz do Rio Pardo, onde antes era possível até navegar, hoje o que se vê é uma enorme ilhota de restos de construção acumulados há uma década. A situação chegou à Justiça,     que decidiu pelo arquivamento do processo. Porém, a ONG Rio Pardo Vivo decidiu retomar a batalha para que os responsáveis revertam os danos ambientais.

O caso se arrasta desde 2010. Naquele ano, duas grandes erosões na Chácara Peixe despejaram para dentro do Pardo toneladas de entulho que era descartado na região. Na época, o ambientalista Luiz Carlos Cavalchuki moveu uma ação civil pública pedindo providências a Prefeitura de Santa Cruz, o que desencadeou um inquérito civil no Ministério Público e, posteriormente, um processo. O Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (GAEMA) de Assis-SP, órgão do MP, foi acionado e, após vistorias, constatou-se que cerca de 1 milhão de metros cúbicos de detritos haviam sido lançados no rio. O prejuízo ambiental foi estimado em mais de R$ 28 milhões. 

A promotoria também arrolou para o processo o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) de Piraju (SP), órgão do Governo do Estado. Nesse meio tempo, uma obra para estancar a erosão foi realizada e os engenheiros do DAEE alegaram que os detritos seriam consumidos pelo próprio rio. “Eles queriam encerrar o processo. Nós questionamos. Dissemos que isso não iria acontecer porque o material já tinha se sedimentado, não iria ser levado pela força das águas e o assoreamento aumentaria cada vez mais. E foi o que aconteceu”, explica Cavalchuki. O processo acabou sendo encerrado após os engenheiros do DAEE também alegarem que o dano ambiental para a retirada do entulho seria ainda maior, pois as máquinas iriam destruir as margens do rio para chegar ao leito. 

Passados 10 anos, o rio Pardo agoniza no trecho em que ocorreu o incidente. Numa área de cerca de 300 m², que antes chegava a 2,5 metros de profundidade, hoje a água “bate na canela”. Em alguns pontos, o rio secou de vez, emergindo a ilhota de entulho. Segundo Luiz Carlos Cavalchuki, a ONG Rio Pardo Vivo deve entrar com uma nova ação nos próximos meses contra os responsáveis, já que o dano tem progredido. “É uma herança maldita desde 2010. O rio mudou de curso pelo assoreamento. Prejudicou a fauna e a flora. Prejudicou a captação de água pela Sabesp. Temos que buscar uma vida melhor para aquela região”, afirmou Cavalchuki.