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Fixação por saúde alimentar já pode ser considerada doença

Publicada dia 06/05/2019 às 11:03:08

Thaís Balielo

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Ortorexia nervosa (do grego orthos: correto; e orexis: apetite) é o termo usado para descrever um comportamento alimentar com traços obsessivos que tem como característica fundamental a fixação por saúde alimentar, acarretando restrições alimentares significativas. A psicóloga Estefânia Mariano Lorenzetti se aprimorou em Transtornos Alimentares pelo AMBULIM do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e falou com o Atual sobre o tema.

“Cada indivíduo tem a sua própria lógica de restrição alimentar que pode ser desde restringir alimentos que geram alergia, que dificultam a digestão aos mais variados e inúmeros motivos até que se possa contar nos dedos quais alimentos ele ingere”, relata.

Estefânia explicou que, oficialmente, nenhum manual de classificação de transtornos mentais traz os critérios diagnósticos para essa nova face dos transtornos alimentares. Porém, desde 1997 se encontra o conceito, as características e os sintomas na literatura científica.

“O comportamento ortoréxico pode ter seu início de modo inocente, com o desejo de curar ou prevenir doenças crônicas e melhorar o estado de saúde. Os ortoréxicos vivem suas vidas em função da comida, especificamente da alimentação saudável, a ponto dessa temática definir a sua autoestima e o seu valor pessoal. A forma como come e o que ele come aos poucos vai se tornando mais importante que o próprio trabalho e vida pessoal”, revela.

Segundo a psicóloga, este indivíduo deixa de ter vida social, porque se alimentar na rua ou estar longe do alcance da comida que ele considera saudável é inconcebível. “Para cada indivíduo, a ortorexia se configura e se apresenta de uma determinada forma. A disfunção está na relação que aquele indivíduo tem com a comida e é preciso procurar auxílio psicológico. É função de o psicólogo trabalhar com a motivação e a atitude alimentar que é o entendimento das crenças, dos pensamentos, dos motivos de escolha de determinados alimentos, e o porquê o indivíduo escolhe determinado alimento e não outro”, explica.

Estefânia lembra que também é imprescindível trabalhar com os componentes dos comportamentos obsessivos que vem carregados de ansiedade. “A comida não é somente uma decisão racional, ela vem carregada de funções simbólicas que são tão importantes quanto as funções nutricionais. Nós temos nos esquecido que as pessoas comem por diversas razões que não são as necessidades fisiológicas; comemos por prazer, comemos por questões sociais, comemos por espiritualidade (como por exemplo na época da quaresma) e  a comida é principalmente a expressão da nossa identidade”, argumenta.

Segundo a profissional, o perfil dos indivíduos vulneráveis à ortorexia nervosa são, geralmente, pessoas organizadas e perfeccionistas com exagerada necessidade de autocuidado e proteção. “Muitos não veem como um problema, eles são visto como disciplinados, são muitas vezes alvos de admiração e exemplo a serem seguidos, mas na verdade estão doentes, ou como preferimos chamar, estão em uma relação disfuncional com a comida, o que pode trazer prejuízos nutricionais para o corpo”, afirma.

Pacientes devem ser acompanhados por nutricionista

O paciente diagnosticado com ortorexia deve ter um acompanhamento psicológico e nutricional. A nutricionista Lívia Salles, com aprimoramento em Nutrição Comportamental e Mindful Eating, falou sobre a importância do psicólogo e nutricionista estarem alinhados no tratamento do paciente.

“São pacientes que observam mais tabela nutricional e fazem cálculos calóricos. Portanto, a conduta ideal seria qualitativa e não quantitativa. Vai trabalhar mais com orientações nutricionais para oferecer todo o aporte calórico, proteico, energético para este paciente ter qualidade de vida e não um cardápio com gramas, com cálculos de porções, pois isso pode aumentar a ansiedade e alimentar os sintomas da ortorexia”, alerta.

Lívia explica que estes pacientes, apesar de se alimentar de forma saudável, eles ficam muito restritos e vai abaixando o percentual de gordura e entrando em estado de subnutrição. “Eles podem ter distúrbios metabólicos, como, por exemplo, distúrbios hormonais, parar de menstruar, baixa concentração nas atividades diárias e frequentes quedas na imunidade”, relata.

A nutricionista salienta que é importante um familiar ou amigo acompanhar o tratamento e estar em contato com o nutricionista, pois o paciente pode omitir certas coisas e não seguir as orientações. “Estas pessoas almejam um corpo que não condiz com realidade e com biótipo do paciente. Esta busca pelo o corpo ideal que a mídia mostra, conduz a uma realidade que não é dela e a mesma sai do comportamento de qualidade de vida”, alerta.