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Portugueses “santa-cruzenses” relembram o passado em data comemorativa

Publicada dia 17/04/2018 às 19:54:48

Carol Leme

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No dia 22 será comemorado o dia da Comunidade Luso-Brasileira, e Santa Cruz não fica de fora, já que possui algumas famílias portuguesas que vivem há décadas na cidade e formaram suas famílias por aqui.

A moradora do centro, Maria de Fátima Ferreira da Venda, 66, sua mãe, Maria Faria Alvez, 88 e seu marido José Maria Pereira da Venda, 70, são exemplo disso. Nascida na cidade de Porto, Maria de Fátima veio para o Brasil entre os anos 50 e 60, quatro anos depois do pai ter vindo para São Paulo para trabalhar. “Vim de navio com nove anos com minha mãe, avó e irmão mais novo. Estranhei a língua portuguesa na escola e algumas coisas que eram diferentes. Meu pai montou uma pensão e aí eu passei a trabalhar desde nova”, lembra. Aos 18 anos, Maria casou-se com José Maria, que também é português, pois seus pais davam preferência a um homem da mesma nacionalidade. “Meu cunhado já morava em Santa Cruz e visitamos a cidade e gostamos. Acabamos nos mudando há 33 anos com nossos quatro filhos, que também se estabeleceram na cidade”, conta. O marido, que era empreiteiro, morava em São Paulo e visitava a família aos finais de semana. “Voltamos para visitar Portugal perto desta época, visitamos a Pórvoa de Varzim, onde nasci e estava tudo moderno. Cheguei até a estranhar as palavras, pois me disseram que o nome do meu filho Daniel era vulgar e fiquei sem graça. Só depois descobri que quiseram dizer que era muito comum, popular”, ri.

Das tradições portuguesas restaram apenas os hábitos alimentares, que incluem muito peixe, como o bacalhau, e a devoção a São Félix e Nossa Senhora de Fátima. “Eles são adorados no local que nasci e minha mãe não abre mão de fazer oração a eles”, revelou.

Briga de portugueses

Vivendo na província de Minho, próximo à Espanha, Maria de Fátima Moraes, 83, não pensou duas vezes ao saber que o pai não estava mandando dinheiro do Brasil para sua mãe e os 9 irmãos, largou o colégio de freiras que estudava, entrou no navio Vera Cruz e veio para o país. “Eu tinha 18 anos e chorei muito, até fazer amizade com outras moças do navio. Daí foi só festa, a gente aprontava muito e frequentamos vários eventos da primeira classe escondidas”, lembra.

Chegando no porto de Santos, Maria de Fátima foi recepcionada por uma tropa de amigos do pai, que acredita que seria para já escolher um marido, mas ela não quis saber. “Ele morava em um quarto, então me colocou para viver com uma família. Não me dei muito com eles e saí em busca de emprego, como tinha curso de contabilidade acabei entrando em um escritório, e, um mês depois fui admitida em um banco. Meu pai ia buscar meu salário e eu não ficava com nada”, revela. Foi no banco que Maria conheceu o esposo Celso Fleury Moraes, 88, que trabalhava no setor de câmbio. “Ele atirava aviõezinhos com recados para mim, mas nunca respondi”.

Por fim, os dois acabaram namorando por sete meses e nesta altura Maria já morava com o pai em uma casa, quando, após uma discussão porque ela havia pegado um pouco de seu salário para comprar roupas, seu pai lhe bateu e ela veio a desmaiar na cozinha. “Acordei com os pingos da torneira da pia caindo em mim e fui no vizinho que tinha telefone para ligar para o Celso. Ele me disse que eu deveria chamar a polícia, pois meu pai iria preso. Esperei meu pai chegar e disse para ele: ou o senhor manda a nossa família vir para o Brasil ou vai preso. Ele pensou muito e por fim decidiu mandar a família”, explica.

No meio da confusão, Celso pediu Maria em casamento e avisaram seu pai que casariam em três meses, o que não agradou nem um pouco, já que seu pai não deixou nenhum familiar comparecer à sua cerimônia. De raiva, Maria tirou todo o sobrenome do pai. “Engravidei da Neusa quatro meses depois e após um ano veio a Neide, meu marido se formou e passou em concursos e depois disso nos mudamos muito e cada filho acabou nascendo em um lugar. Até que o Celso foi gerente da companhia de força em Santa Cruz e decidimos ficar aqui de uma vez por todas. Estamos na cidade há 40 anos e depois disso visitamos Portugal quatro vezes, com direito a lugares do passado e até outros países ali por perto. Quanto a meu pai, nunca mais vi”, conta.