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Pescaria em caravana é tradição em Santa Cruz

Publicada dia 20/08/2019 às 15:00:20

Arquivo Pessoal

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Em Santa Cruz do Rio Pardo, como em muitas cidades do interior, é praticamente impossível encontrar alguém que nunca foi pescar no Mato Grosso, ou pelo menos conhece alguém que foi. A tradição é passada de pai para filho e muitas caravanas atuais são formadas por filhos ou netos das primeiras turmas que iam de caminhão e acampavam na beira do rio sem muita estrutura ou conforto.

Atualmente o turismo da pesca se desenvolveu e as pousadas, por mais simples que sejam, já possuem ar condicionado em quartos, locais para limpar os peixes e freezer para armazenar. São raras as pessoas que ainda ficam em locais sem nenhuma estrutura como era antes.

O aposentado Paulinho Garcia, 72, é da turma dos pescadores antigos da cidade. Ele conta que pesca no Mato Grosso desde seus 20 e poucos anos. “Íamos de caminhão, na carroceria mesmo. Levávamos dois barcos. Tinha que levar barracas, gerador, freezer, lampião e até soro para picada de cobra”, conta.

O comerciante, Sérgio Dona, 72, vai ao Mato Grosso desde 1982, e chegou a comprar um rancho por lá para facilitar a estadia com os parentes e amigos. Ele costuma ir duas vezes por ano para o rancho e pega o início e fim da temporada de pesca. Sérgio lamenta a diminuição dos peixes e entende a lei de cotas para preservar os peixes.

Ele revela que gosta de pescar para trazer o peixe, mas se a lei mudar para cota zero vai continuar pescando e soltando. “O importante é estar na beira do rio. Estar junto da natureza é muito bom. Nos primeiros anos a gente só acampava e tinha que tomar banho no rio”, relata.

O engenheiro Valdir Cunha, vai pelo menos uma vez por ano ao Mato Grosso. Ele costuma ir pescar no rio Aquidauana ou no rio Miranda. Mas conta que já foi até Ita Ibaté na Argentina para praticar pesca esportiva de Dourados. “Comecei por incentivo de amigos em 1986, mas fiquei uns 15 anos sem ir para o Mato Grosso. Depois voltei e não parei mais”, revela.

Para Valdir, a pesca é um exercício que permite refletir sobre a vida. “São momentos em que a gente se desliga dos problemas. É, sem dúvida, uma higiene mental. Você se renova a cada viagem. O contato direto com a natureza é maravilhoso”, afirma.

Valdir conta que em 1986 a pescaria era com acampamento às margens do rio, sem energia elétrica, a iluminação era com lampião a gás e banho no rio. Nos anos seguintes já foram com gerador para luz e freezer. “Hoje em dia é muito mais confortável e fácil, além das estradas asfaltadas, que não tinha antigamente. O que falta agora são os peixes”, brinca.

Ele sempre foi pescar com os amigos e acabou de chegar de uma destas viagens. Agora, no próximo dia 11, vai embarcar na primeira viagem de pescaria com o filho Guilherme. Será um dia dos pais diferente para os dois, acredita.

O empresário Felisberto Ferrari vai frequentemente para o Mato Grosso pescar. Ele conta que vai com o filho ou amigos quando tem alguma folga dos eventos que trabalha e separa um pedaço dos meses de julho e agosto para ir à caravana com a família, pois é uma época de poucos casamentos.

“Nossa história de pesca começou em 2005 só homens e depois, desde 2007, começamos a ir com a família. Ficamos sempre na pousada Pequi em Aquidauana. A caravana atualmente está com cerca de 35 pessoas e ficamos quase um mês pescando”, conta.

Felisberto está no Mato Grosso com a esposa, pais, irmãos e amigos e deve voltar dia 10. “Ficamos acampados e saímos pescar todos os dias. Junto das barracas temos uma cozinha comunitária. Durante a pescaria também fazemos o peixe assado na beira do rio”, relata.

O empresário se diverte apreciando a natureza. Ele conta que aparece jacaré, que papagaios tomam café junto da turma no acampamento, tem tatu que faz buraco na porta da cozinha. “Todos convivem harmoniosamente. De vez em quando aparece um porco do mato que assusta um pouco ou até onça que já chegamos a ver, mas é raro. Como é uma fazenda pesqueiro o Ibama usa para soltar os animais”, revela.

Sócio da loja de pesca e caça Piracema, Flavio de Oliveira Doná, percebe em seus clientes, que os mais novos já buscam os materiais para pesca esportiva e não vão para o Mato Grosso. “Para aquela região vai quem quer pegar o peixe para trazer. O pessoal das antigas ia de caravana, acampava, e voltava com caminhão de peixe, vários freezers cheios. Hoje a lei não permite e nem tem tanto peixe mais”, argumenta.

Para Flávio, Santa Cruz ainda preserva a tradição de fazer a caravana e trazer peixes, mas os jovens já tem outra mentalidade. “Pessoal mais novo não liga tanto para o consumo do peixe. Hoje se a pessoa quer comer um peixe vai ao pesque e pague. No Mato Grosso vai quem teve pai ou avô que ia, seguem a tradição. Porque hoje quem busca pescaria acaba indo para a pesca esportiva. Internet e canais de pesca propagam muito a pesca esportiva”, argumenta.