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Paixão por antiguidades move santa-cruzense

Publicada dia 09/01/2020 às 18:55:23

Thaís Balielo

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Desde uma colher de sorvete, rádios, vitrolas, câmeras, até tratores, carros, motos, tudo o que for antigo chama a atenção do colecionador Carlos Alberto Nunes, 54. Conhecido como Carlinhos da Chica, o soldador investe todo dinheiro que sobra em itens antigos, ele conta que a esposa reclama que não tem mais onde colocar tanta coisa. “Ela quer uma televisão nova, quer estar atualizada. Quem que quer comprar coisa a manivela? Só louco como eu mesmo. Tem que ter a ferrugem no sangue”, brinca.

Carlinhos não sabe explicar como começou seu gosto por coisas antigas, mas acredita que tenha muita questão emocional e de memória afetiva. “Tenho muito amor pelos itens antigos, muitos lembram minha infância e momentos que vivi. Tem um calibrador antigo, lembro-me de usar isso no posto. Lembro como se fosse agora. A lambreta também me faz lembrar um vizinho que me levou dar uma volta com ele quando era criança”, conta.

Um item que chama a atenção na coleção de Carlinhos é a Karmann Ghia, 65. Quando sai pela cidade andar ou quando vai aos encontros de carros antigos ela vira a atração principal. Ele conta que lembra que seu irmão teve uma na época que não valia tanto e ele sempre achou um carro charmoso. Depois que conseguiu comprar o veículo ele garante que não quer vender ou trocar por nada.

O colecionador tem ainda uma Rural ano 65, quatro fuscas anos 65, 68, 69 e outro fusca conversível 69, além de três lambretas, duas vespas, uma moto CG 77, uma ML 78, uma CB 450 86, e um trator a gasolina ano 51. “Não tenho terra para arar, mas comprei um trator por R$ 5 mil por que gostei e tinha que ter. Quando vejo uma coisa assim não posso deixar passar, posso nunca mais ter oportunidade de comprar. Já achei comprador que queria pagar R$ 10 mil, mas não vendo. O dia que precisar de dinheiro pode acontecer de vender até por menos, mas enquanto puder eu não desfaço de nada”, explica.

Para guardar tantos veículos, Carlinhos empresta e aluga as garagens dos vizinhos, mas mesmo assim quer mais veículos. Ele está de olho em uma moto da década de 70 que vale quase 50 mil. “Com R$ 50 mil eu compro uma moto do momento, mas gosto do ronco do motor das antigas, gosto de andar na rua e só eu ter aquela moto. É outra sensação. Vendo alguns dos carros, uma coisa ou outra e ainda vou pegar essa moto”, afirma.

Carlinhos reclama que hoje os produtos são muito descartáveis. “Agora lançam tudo de plástico. Quando sai o produto novo já lança os reparos juntos, por que é feito para estragar mesmo. As coisas antigas duram a vida toda. Coisa antiga você não perde dinheiro, porque só valoriza. Quando aperta a situação e precisa de dinheiro vendo alguma coisa, mas tem que achar outro louco que nem eu para comprar”, brinca.

A internet facilitou para encontrar os itens antigos, mas Carlinhos reclamou que tecnologia também inflacionou o mercado. “Hoje tem muita coisa supervalorizada. Ficou mais difícil de achar aquele item antigo perdido que a pessoa ia jogar fora. Agora todos querem vender”, diz.

Carlinhos vai frequentemente a encontros de carros antigos onde acontecem também as conhecidas feiras de pulgas, onde se vende e troca itens antigos. “Não gosto de vender, mas quando tenho repetido posso vender ou trocar para conseguir outro item que me interesso. Só vendo quando preciso de dinheiro. Se eu pudesse ficava com tudo. Tudo tem um valor, tem itens de maior valor sentimental e itens de maior valor financeiro”, afirma.

Carlinhos relata que já foi motivo de riso por gostar de coisa velha. “Davam risada do cara que queria um penico esmaltado, uma banheira que virou bebedouro de gado, mas agora o pessoal já despertou e sabe que vale dinheiro. Quem quer encontrar algum item antigo me procura, por que mesmo que eu não tenha ou não queira vender eu sei quem tem”, diz.

Ele já ajudou muitos amigos a conseguir algum item antigo para decoração e chegou a vender quase todo seu acervo de pequenos itens antigos para o posto Estação Kafé quando foi inaugurado. “Eles queriam uma decoração com itens antigos e me procuraram. Aceitei vender, pois sabia que ia ficar em um lugar que as pessoas iam ver sempre”, argumenta.

A vontade de Carlinhos é ter um espaço para deixar seus itens expostos. Em sua casa ele espalha os objetos para decorar praticamente todos os cômodos. Na sala há vitrolas, gramofones, câmeras fotográficas, uma caixa registradora, outro cômodo está repleto de telefones de diversas épocas, além de ferros de passar a brasa, chaleiras, relógios, entre outros itens. No quarto um armário está lotado com os itens pequenos como facas, canivetes, tesouras, utensílios de barbearia, rádios, extintores de incêndios antigo, lamparinas e tudo o que mais se puder imaginar. “Não escolhi um tema para colecionar, tudo o que vejo e acho interessante eu compro”, diz.