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Medo atrai cinéfilos de Santa Cruz

Publicada dia 04/12/2019 às 12:58:58

Thaís Balielo

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Gosto por fantasias horripilantes no Halloween, roda de histórias macabras entre amigos, assistir filmes de terror, passear no “trem fantasma”, enfim, tem muita gente que gosta de sentir medo e vive procurando novas formas de se assustar ou de dar susto nos amigos. Segundo reportagem do Metro Jornal procurar pelo medo não é algo novo. Na verdade, isso data do começo da humanidade, com rituais e outras práticas. Está presente na Grécia e Roma antigas, que já produziam ficções de terror em trabalhos literários.

Todos já sentimos medo em algum momento da vida, seja por um perigo real ou porque procuramos algo para provocá-lo. É por isso que as pessoas assistem a filmes de terror ou visitam casas abandonadas. Em Santa Cruz, os cinéfilos Ana Beatriz Raimundo Bianchi, 27, e Ricardo Henrique Mariano De Oliveira, 29, adoram filmes de terror e suspense.

O medo envolve processos biológicos que existem em todas as espécies, do rato ao ser humano. É um comportamento adaptativo para ajudar a identificar ameaças, uma capacidade que nos permitiu sobreviver de predadores e desastres naturais.

Segundo especialistas, humanos nascem com dois medos inatos: o de cair e o de barulhos altos. Alguns são ancestrais ou naturais (cobras, aranhas, insetos, escuridão), enquanto outros são aprendidos (como o medo de cachorros depois de ser mordido por um). Isso significa que muitos – ou a maioria – dos nossos medos são adquiridos ou transmitidos socialmente.

Seth Norrholm, professor do departamento de psiquiatria e neurociências do comportamento da Wayne State University, nos EUA, explica que quando começamos a sentir medo, o “centro do medo”, chamado amígdala,  é ativado. A liberação de adrenalina faz a respiração aumentar, o coração bater mais rápido, corpo suar, e diz se deve fugir, lutar ou paralisar. Também há liberação de dopamina, que nos faz sentir prazer.

A socióloga e autora de “Scream: Chilling Adventures in the Science of Fear” (Grite: Aventuras Arrepiantes na Ciência do Medo), Margee Kerr explica que procurar situações que provocam medo também tem a ver com humor e com desafiar os medos. Enfrentar algo que assusta inclui superar ou suportar elementos de risco e estresse, resultando numa sensação de realização.

Operador de filmes, Ricardo revela que gosta de filme terror pela sensação que provoca. “Desde euforia que me causa pelo desconhecido, como filmes de espíritos e possessões, ocultismo, e tal a adrenalina que me causa com filme de sobrevivência, serial killer, e emoções quando o gênero terror se mistura com o drama e retrata situações do cotidiano como violência doméstica e abandono”, lista.

Ricardo explica que terror é um gênero que não serve apenas para assustar. “Ele pode causar vários risos quando se mistura com comédia (conhecidos como filmes "trash") e também fazem criticas como o ótimo Parasita (2019) em que faz uma crítica social, e Corra (2017) uma crítica interessante ao racismo”, diz.

O gosto pelos filmes de terror e suspense começou cedo. “Eu tenho recordações de quando tinha cinco anos vendo filme de mortos-vivos com meu pai. Eu esperava ansioso pelo final de semana quando me encontrava com meu primo para ir até a locadora alugar VHS de terror. Uma vez a moça que trabalhava na locadora ficou chocada pelo fato de eu e meu primo na época ter apenas 9 anos de idade e estar alugando o filme “Exorcista”. Realmente é um gênero que assisto desde de pequeno”, conta.

Já amante dos filmes, Ricardo não pensou duas vezes quando, há nove anos, recebeu o convite para trabalhar como projetor no cinema da cidade. “Quando apareceu a oportunidade de trabalhar com filmes não pensei duas vezes”, afirma.

A publicitária Ana Beatriz também tem lembranças de assistir filmes de terror desde nova com os irmãos e primos mais velhos. “Na época morria de medo, tinha dificuldade para dormir depois de ver os filmes, mas sempre queria assistir de novo. Hoje já tenho certa resistência. Muito difícil um filme de terror me dar medo”, relata.

Ainda na época de locadora, ela era avisada assim que chegava um novo filme de terror para ser a primeira a alugar. Ela também sempre estava presente nas estreias de terror no cinema. “Não sei nem escolher um filme preferido ou um personagem, gosto de todos. Coleciono itens de filmes e a maioria são dos de terror mesmo”, revela.

A publicitária conta ainda que nas excursões da escola era o centro da roda do “fundão” contando histórias de terror para os amigos. “Todo filme de terror que lança eu assisto, não deixo nenhum de fora. Já vi tudo de terror desde os em preto e branco até os novos. Em festas a fantasia sempre procurei fantasias para assustar as pessoas. Lembro que ainda criança em carnavais ia fantasiada de Pânico. Minha primeira tatuagem de hena na praia foi o Pânico”, relata.