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Jogo da boneca Momo já causa problemas entre jovens

Publicada dia 12/09/2018 às 12:44:55

Reprodução

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A boneca Momo tem um rosto aterrorizante, mas vem assustando pais e professores pelos perigos que pode trazer aos jovens. Pálida, com cabelos pretos, olhos esbugalhados e um sorriso sinistro, os traços macabros da boneca Momo ficaram famosos pelo WhatsApp. Porém o que assusta são os riscos do contato de crianças e adolescentes com o número de telefone que dissemina o desafio viral.

Como apurou a reportagem, um contato envia mensagens para o celular com desafios dos mais variados, que podem chegar ao pedido de sufocamento e até mesmo ao suicídio. Esta nova personagem já vem sendo comparada à Baleia Azul, que levou vários jovens à morte, em 2017.

Na última semana, um caso ligado ao desafio Momo foi registrado em uma escola da cidade de Bauru. Uma estudante tentou provocar um curto circuito ao introduzir um clipe na tomada da sala de aula. A relação do caso com o "jogo" da boneca Momo foi confirmada por funcionários da unidade escolar. A menina, que não apresentava sintomas de depressão, teria confirmado à direção da unidade que cumpriu um dos desafios da Boneca Momo. Ela foi descrita como uma menina boa, educada, de ótima família e que nunca levou problemas à escola.

O psicólogo Régis Fernando Pilati conversou com a reportagem do Atual sobre o assunto.

Atual - Como já aconteceu com o jogo Baleia Azul, agora está rodando pela internet o desafio da boneca Momo. O que leva os adolescentes a se envolverem neste tipo de jogo?

Regis - Estamos neste mundo tecnológico e com ele vem uma série de riscos. Antigamente era mais fácil detectar porque eram coisas reais. Antes eram apenas videogames e tudo era mais difícil para fazer de forma escondida. Agora é diferente. A criança é um ser curioso. O tipo de pessoa que se interessa é adolescente e pré-adolescente. Eles gostam de sentir muitas emoções. O medo é uma coisa que o ser humano é muito curioso. Gosta de ter medo, gosta de escutar histórias de terror, de ver imagens. A gente quer o coração batendo e esses jogos trazem muito essa emoção.

Junto com essa necessidade da emoção temos inúmeros adolescentes com inúmeras necessidades. Eles não querem entender o que eles estão sentindo, eles querem resolver. Um complexo de inferioridade, um complexo de existência, baixa autoestima, sentimento de rejeição, uma paixão não correspondida, não gostar do corpo, algum preconceito que pode estar sofrendo. Aí um jogo destes a pessoa que joga mostra uma coragem, está enfrentando, está se desafiando, e no mundo virtual é mais fácil ser corajoso. A pessoa se entrega e acaba se tornando vítima.

A- Você atende bastantes adolescentes. Eles já falaram sobre o jogo?

R- Eu sempre atendi um público grande de adolescentes e a Momo ainda não apareceu em conversas comigo até porque é bem novo, mas já tive adolescente em situações sérias de cortar o pulso, que pode casar muito com este tipo de problema.

A- O jovem que segue este tipo de jogo já tem problemas de relacionamento, é um jovem isolado, solitário, ou não existe um perfil?

R- Não podemos fechar um público para se interessar por este tipo de jogo. Um jovem mais reprimido pode ser um alvo mais fácil em um jogo desse, mas o extrovertido pode ter muito mais impulso e pode ser muito mais radical com as emoções dele e perder o controle. Ser muito introvertido não é legal, ser muito extrovertido também não é legal. O risco acaba aparecendo para ambas as partes.

A- Existem mudanças de comportamento que podem ser percebidas pelos pais e professores quando um jovem se envolve neste tipo de coisa?

R- Tudo que uma criança vive e gera emoção pode perder o controle e começar a mostrar um comportamento diferente, tanto na escola como em casa, porque ele não está sabendo lidar com aquilo. Pode ser uma criança que fica um pouco mais assustada e mais agitada, sem que os pais saibam o porquê. Um adolescente pode ficar mais rebelde. Um jogo deste pode desencadear uma energia de coragem fazendo com que tenha um comportamento um pouco mais difícil de lidar. Ou aquele mais reprimido pode se soltar um pouco mais, pois está se sentindo mais corajoso.

A- O que os pais podem fazer para evitar isso?

R- Tem que ter muita conversa dentro de casa. Não tem como os pais quererem educar os filhos como eram na época deles, porque as coisas mudaram muito. O mundo virtual está na escola, está no trabalho, está no nosso dia a dia.

Os pais precisam tomar conta. Tem que ter regra e horário. Os pais têm que saber o que os filhos estão vendo, o que estão passando para outras pessoas. Foto de família, endereço, se está sendo muito invasivo, se está expondo muito situações que não era para expor. Eles têm que serem pais o tempo todo, tem que ser chato, tem que pôr regra, também pode ter uma parceria amigável para ganhar os filhos e para proteger.

Criança e adolescente precisa ter paz no meio em que ele vive e a paz vem da família. Daquele grupo de pessoas que aquele jovem convive. Um casamento saudável, pais que tenham discernimento do que o filho pode ou não saber. Ter discussão longe dos filhos. O jovem pode não saber lidar com angustia e tristeza e este tipo de jogo acaba sendo para ele a solução dos problemas.

Também precisamos muito do apoio dos educadores. A criança passa boa parte do tempo dentro da escola. Não que tenham que fazer o papel dos pais, mas que haja uma parceria da educação com os pais. Tudo se junta para ser um grande trabalho de prevenção.