Jornal Atual
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Certidão de nascimento

Publicada dia 21/01/2020 às 10:07:38

Reprodução

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Marcos Pellegatti


Em plena celebração dos 150 anos de Santa Cruz do Rio Pardo, documentos descobertos por um casal de pesquisadores apontam que, na verdade, a “Joia da Sorocabana”, como já foi conhecida, é um pouco mais velha. Uma carta datada de 1862 já anunciava a formação da “Capela de Santa Cruz”, oito anos antes da chegada de Joaquim Manoel de Andrade, em 1870 – data que, até hoje, de maneira oficial, é mantida como a do nascimento de Santa Cruz.

Os memorialistas Celso Prado e Junko Sato Prado se dedicam há décadas à pesquisa da história da região e seus personagens, com diversos livros lançados. Em um deles, intitulado “No tempo dos Coronéis”, os autores trazem a cópia da carta do padre João Domingos Figueira que em 1862 comunicava ao bispado de São Paulo que Manoel Francisco Soares, dono da fazenda “Santa Cruz”, havia doado uma área de 100 alqueires ao patrimônio da igreja para a formação de um povoado. “A extensão das terras ia do ribeirão São Domingos até a confluência com o Mandassaia, daí um valo em direção ao rio Pardo”, explica Prado. Entre outras informações, o documento registra a existência de 18 ou 20 casas dentro da área doada. “Elas ficavam na região onde hoje está o Chafariz”, disse o pesquisador. Na época, toda essa região pertencia a Botucatu. A partir da doação, surge a capela de Santa Cruz. “Capela era a menor unidade administrativa e política na estrutura do governo e igreja. A área onde se formou Santa Cruz antes era chamada apenas de bairro ou paragem, sede de fazenda, mas quando se fala em capela, quer dizer que foi reconhecida pela Igreja”, declarou Prado.

Em novembro de 1862, ocorre o 'batizado' do povoado, sacramentando seu surgimento. Além disso, a Câmara de Botucatu também reconhece oficialmente que havia uma capela em Santa Cruz do Rio Pardo. A descoberta da carta do padre Figueira tem grande importância, pois o coloca, junto com Manoel Soares, como pioneiro no nascimento daquilo que, décadas mais tarde, se tornaria um município independente. De acordo com Celso Prado, a consolidação da narrativa de que foi o Joaquim Manoel de Andrade  um dos fundadores de Santa Cruz em 1870 talvez se explique pela importância que este teve para o território. Joaquim de Andrade era um grande capitalista da época, fazendeiro, suinocultor e dono de serrarias. Também era primo de José Theodoro de Souza, o bandeirante que liderou o desbravamento da região – leia-se extermínio dos índios e conquista das terras. Joaquim de Andrade, de fato, chega a Santa Cruz em 1870 e firma uma parceria com o coronel Emygdio José da Piedade, que era deputado provincial e também decide fixar residência no povoado. “Era uma localidade capenga que ganhou dinamismo com a chegada dos dois. Eles foram fundamentais. Provavelmente, se não fosse por Joaquim de Andrade, Santa Cruz do Rio Pardo seria extinta, não chegaríamos até aqui”, diz Prado.